Peso ausente
Eu guardo tudo
Pequenos papéis, notas, rascunhos
Até os que parecem ter sido esboçados para esta minha vida em esboço
Um enorme peso, pesado em demasia, e nele esta alma vazia
Uma cisterna abrupta como a vil cova de uma onça que me espreita o momento
Dentes arreganhados, garras afiadas
E nem todos os pequenos papéis ou notas ou rascunhos
Pequenos papéis, notas e rascunhos catalogados
Que guardo trancados neste peito macerado
Reunidos neste armazém de congelados, quedando-se rígidos, como ele, rígido
A bombear sem cessar, a distribuir-me vida por quantos quadrantes
Malvado!
Este peso continuado
Sufocante pesar aqui cravado, neste estéril terreno arado
Vida que esvai-se ainda em vida
Pressupondo uma morte que pressupõe uma vida
Vida qualquer, desde que parida
De um enorme peso, pesado em demasia
A sentir este chão que piso a ausentar-se, a perder-me e eu a ele
Já nem caminho ou atalho
Que nada nem ninguém me atrai, nem eu atraio ninguém
Amarras por todo o lado, as mesmas que me sustêm
Me impedem a evasão a este enorme peso
Pesado em demasia e ainda assim a levitar
E eu sob ele a pairar
Enorme peso, pesado em demasia E eu a deixar de pesar