Falso poço
Num poço de palavras me lancei
Nem olhei, sequer pensei, apenas me lancei
Nas suas turvas nuances, esperançado sem significado
Apenas na salvação
Que uma bóia, elas
A levarem-me à tona desta incerteza
Fria como as águas do degelo
E nem receio de tão fundo, pois de palavras
Nele encontraria sempre a resposta a servir-me a mão
Numa ajuda sincera como são as palavras
E por isso nem pensei e nelas me atirei, a elas me entreguei
Mesmo sabendo que também as há
Doentias, acutilantes, sufocantes palavras
Que se alojam, nos sugam, se alastram e nos pesam a levar ao fundo
Quais cães raivosos, sedentos de nessa fúria se saciarem
Que não é culpa sua, antes da sua natureza
A mesma que habita aquelas águas de palavras encharcadas
Em vida, em morte, em dolorosas chicotadas
Naquele poço profundo onde a salvação procurei
E tudo o que achei foi mágoa onde me afoguei
Naquele poço onde sufocado morri