O que é o mundo enquanto eu sou?
Enquanto me visto dos meus pertences e neles me banho.
Que corre a essas horas nos minutos em que se move o mundo paralelo?
Que peso têm os meus passos, lado a lado com os passos de todo o outro mundo?
O mundo que é movido a papel, os papéis que cada um interpreta, numa encenação que muda a cada virar de hora.
O teatro da dor.
De um lado a tristeza, do oposto a felicidade, patente em actos que se sucedem e à realidade sucumbem, já nem satisfeitos.
O resto do mundo é a soma dos demais, de uns e dos outros que me condicionam, se eu permitir.
Repreendo-me por repreender, sabendo que o faço para me dar a entender, assíduo em fazer prevalecer a ordem que sobre o caos se deita e não o deixa amanhecer.
E depois a revolta, a faca que se crava inquieta e revolve o espaço da ferida aberta.
Essa ferida não sara, para sempre exposta, chaga a sangue frio, nem pisado, nem coalhado.
Mesmo em dias de perfeição, daqueles em que o exemplo se olha no céu, servem-me de agasalho estes actos continuados, trasladados a cada novo dia em que me são mutilados, ao mundo expostos e por ele avaliados.
Quero-me de fora da roda, à margem dos papéis que sinto obrigação de interpretar para aos olhos do mundo este me aceitar.
Quero-me eu, singular, reflexo exacto que não se permite falsear, esta dança impune dançar e ao deitar descansado adormecer, sabendo que nada devo ao mundo senão o que lhe dou sincero, por ser único, por ser verdadeiro.