“É ele! Está aí a chegar! Abriguem-se!”
Assim fizeram. Todos recolheram a suas casas, reuniram-se com as suas famílias, parentes, amigos, entes mais queridos e juntos rezaram. Uniram as mãos e apelaram à sua face apaziguadora. Aquela que se mostra misericordiosa com todos nós, pecadores nunca inocentes, e não nos arrasta na sua maré de sofreguidão. O mundo quedo pára, aguarda em silêncio as doze badaladas e ansioso espera. Trará consigo paz? O homem voltará a entender o homem seu igual e de novo o chamará de irmão? Nada. Lá fora a neve inicia-se e em flocos aveludados beija o chão como numa bênção de agradecimento. Um aviso de que tudo continua bem, para sossego de quantos. O temido passou e segue a sua rota. Qual não sei, nem ninguém como eu. Virá para fustigar? Será benigno, este? E os outros? Os que se seguirão? Trarão consigo esperança? A força da razão? Algo maior que o faça mais tolerado? Pois que o medo viaja a seu lado e neste confronto desigual é seu poderoso aliado. Resta-nos esperar e, quem ainda o lembre, rezar. Pois que não depende da nossa vontade, feita aqui na Terra ou no longínquo e misterioso céu.