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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Labirinto

por migalhas, em 26.07.07

No labirinto em que me movo

Guiado pela vontade em o contornar

Sabê-lo dominado e dele não mais ouvir falar

Faço minhas algumas palavras

De quem dele se abeirou e tomando-lhe o pulso

Soube que era imenso, difícil de imaginar

 

Perdi o norte, não sei as horas

Nem que parte do dia me abraça

Sei que sou eu mesmo, ainda que alterado

Uma amálgama de gente feita

Um ser cansado, por demais cansado

E à vida brava fatalmente algemado

 

Tendo a ser uno com cada dia

Pois deles depende a minha insanidade moribunda

Fugaz a existência

A aparência do que se supõe real mas que de real pouco tem

Parece que é mas não é

Como aos poucos se entende, ou talvez não

 

Somos um, somos muitos, bravos heróis

Lançados à fera que é esta estada

Esta permanência por parte sempre incerta

Como incerta é a hora que passa

Sem rumo definido, nem caminho traçado

 

Resta a espera

Infinita espera

Por quê?

Existe razão?

De que dependo, dependemos

Para ser, sermos

Um, todos, reais heróis de um mundo a vibrar por nós

 

Hoje tudo se confunde

Por que tarda a resposta

Atrasada, como sempre

Mas que não se confunda

Resposta concreta com semelhança profunda

Pois ser não é parecer

E é dessa garantia que tudo depende

Inclusive eu, nós, quantos se aventuram a viver

E esse imenso labirinto tentar perceber

Improváveis consequências

por migalhas, em 24.07.07

A espaços. Apenas a espaços me conforto com os dias ímpares, desfigurados, sem identidade a que apelar. Não poderem ser aqueles que eu concebo, fiéis à sua alvura, suaves, inofensivos. Aqueles que olhar algum fere, em que um atalho não é uma armadilha. Em que não é a excepção que vinga a parte mas tudo é matéria que apazigua corpo e mente e os une sem malícia.

Em Bogotá chove, em Santiago faz sol, aqui, em minha casa, sou eu que faço o tempo, é ele que me preenche, que me consome.

Os olhos vêem o que a mente não deseja. Esta configura e só na loucura me faz ver chuva e sol em uníssono, num dia qualquer, improvável até em Bogotá ou em Santiago do Chile.

Não sei que diga. Olho e vejo e a confusão instala-se. Por que não apenas paz? Ver sem tremer, sem temer as entrelinhas? Nada se me afigura inocente, tudo esconde algo mais. Como um vício que se instala e que nem a mais terna visão consegue domar, apaziguar. Surge em Bogotá, em Santiago, surge em todo o globo.

A raiz vingou, cresceu, deu fruto, abre a flor e mesmo num dia radioso ela mostra o que só eu vejo: mostra dor, ausências vivas, vazios urbanos, naturezas mortas. O que recolho é apenas o escalpe de uma vida sofrida, onde tudo se parece encaixar, mas nada se chega a concretizar. Por que é assim, é farsa, falsete, improbabilidade segura de si, que se dissimula por entre os dias, mesmo os mais belos.

Deixei de tentar o suicídio - Parte 2

por migalhas, em 20.07.07

(continuação)

Não fosse a mulher-a-dias passar-me um sermão de como ia ser difícil e trabalhoso tirar aquelas manchas de sangue da banheira e dos azulejos da casa-de-banho, quando tentei cortar os pulsos.

Ou as perguntas inocentes da minha filha, ainda pequena e na idade dos porquês, que insistia em confrontar-me com banalidades inoportunas em mais uma hora da verdade:

- Papá, papá, por que é que estás a atar o cachecol do meu ursinho de peluche a esse candeeiro? A mamã já te disse que fica cheio de pó e eu preciso dele para levar o Rupert à rua. Não vês o frio que está?

Ou a surpresa de uma caixa de comprimidos ingerida de uma só vez me proporcionar a maior caganeira da minha vida e não a passagem para a outra margem, como eu previra. Mãozinha marota da minha filhota, outra vez ela a evitar o estatuto de órfã de pai, que dias antes usara da sua destreza e curiosidade típicas, para colocar gomas, curiosamente semelhantes na forma e cor, no espaço que deveria ser, apenas e só, ocupado pelos comprimidos para a ansiedade. Ansiedade essa que, entretanto, se apossara da minha esposa, uma vez que não via a hora daquelas minhas tentativas darem certo. Por isso, recorrera aos préstimos do nosso médico de família para que este lhe receitasse qualquer coisa capaz de a acalmar, uma vez que eu não estava a conseguir.

Não fosse esse conjunto de contratempos e a esta hora estaria descansadamente a usufruir da vida após a morte, daquela que tanto se fala e tão pouco se sabe. Não sei se serão razões válidas, razões capazes de justificar o abandono destas minhas tentativas. Mas a verdade é que não contava com tantas dificuldades, tantos obstáculos e, consequentemente, tanta frustração. Resolvi por isso parar antes que entrasse numa depressão profunda e então aí fosse mesmo parar à cama e acabasse por me acontecer alguma. Parei a tempo, acho eu. E em boa hora o fiz. Por que mais vale parar a tempo, do que depois ser tarde demais.

FIM

Deixei de tentar o suicídio - Parte 1

por migalhas, em 19.07.07

Ponderada, a decisão foi tomada, se bem que a custo. A custo de várias marcas que se acumularam dolorosamente nos pulsos, no pescoço, nas têmporas, no estômago. Os tempos não estão para isto. Ou bem que se consegue à primeira, e aí existe uma clara rentabilização dos meios envolvidos (cadeiras, cordas, lâminas, comprimidos, etc.), ou insistir em resultados que teimam em não acontecer, apenas por que existe uma obsessão doentia em passar para o lado de lá, não está com nada. São custos difíceis de suportar, a que se juntam os que derivam de internamentos e cuidados médicos sempre necessários após cada nova tentativa falhada. Assim não dá! Mesmo! A pessoa bem se esforça e, se de início é a falta de experiência ou de prática, depois passa a ser pura falta de sorte ou jeito não assumida, como convém. Há que lidar com o remorso, com a sensação de fracasso, para além da aura de incapacidade, de incompetência, que começa a envolver-nos e, aos poucos, a consumir-nos. Algo que só à custa de muita força de vontade nos consegue fazer continuar. É um processo que requer um conhecimento profundo do próprio ser, sob risco de este não conseguir dar o salto. De conseguir avançar nos seus propósitos de pôr termo à vida, à sua inútil existência. Mesmo lendo alguns, bastantes, imensos ou quase todos os manuais disponíveis, e que, efectivamente até são úteis ferramentas de trabalho em todo este processo mórbido, a verdade é que, por si só, não fazem milagres. Pessoalmente, tentei 3 vezes e, por fim, decidi-me a abandonar a pretensão de tentar morrer antes de tempo. E das 3 posso dizer que estava tudo tão bem encaminhado… (cont.)

Mais do mesmo

por migalhas, em 17.07.07

Mais de 6,4 milhões de toneladas de lixo, das quais 60 a 80% são plásticos, acabam no mar anualmente, segundo um relatório hoje divulgado pela organização ambientalista Greenpeace no âmbito da campanha «Recuperemos o Mediterrâneo».

Assim não dá. Muito se fala em defesa do ambiente, muito se diz, se discursa, sim senhor, temos de fazer, de agir, mas depois… depois vamos de férias e por que não estamos em casa, por que aquele é um local onde se calhar nem voltaremos algum dia, que se lixe! Fica aqui este lixo que o caixote está longe.

Dados da campanha 2006/2007 do programa Coastwatch Portugal revelaram que a presença de lixo, sobretudo garrafas e sacos de plástico, continua a ser problemática nas praias portuguesas, tendo sido contabilizados mais de 100 mil resíduos em 350 quilómetros de costa.

O problema é extensível ao mundo, ao globo. Tão porcos somos nós por cá, como todos os outros povos, lá por terra deles. Com uma única e desastrosa consequência: A asfixia do planeta.

O Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) estimava, em 2005, que existiam cerca de 13.000 fragmentos de plásticos por quilómetro quadrado nos oceanos. O Mar Mediterrâneo nas zonas próximas das costas de Espanha, França e Itália, são as zonas do planeta com mais detritos no fundo do mar: 1.935 unidades por quilómetro quadrado.

Todas estas conclusões só vêm confirmar que pouco nos importamos com os nosso filhos e com os filhos que serão os deles. Estamos a deixar nas suas mãos um planeta moribundo, agastado de tão graves e repetitivos abusos. Os que vêm que resolvam, pois que nós nem remediar conseguimos. E tudo por que não queremos, só por isso.

O estudo indica que 70% do lixo mundial encontra-se no fundo do mar, ameaçando várias espécies entre as quais tartarugas, cetáceos e focas.

A bibliografia regista 267 espécies marinhas diferentes afectadas pelos plásticos, algumas das quais em perigo de extinção.

Somos uma verdadeira vergonha, pois todos os dias desrespeitamos o planeta, a sua natureza e, mais grave ainda, o próximo. O nosso igual, pois é humano como nós e necessita tanto deste planeta e daquilo que ele nos oferece como nós próprios. Estamos todos no mesmo barco e ninguém parece aperceber-se desse facto indismentível.

Cerca de 80% deste lixo tem origem em terra, através das redes de saneamento, actividades industriais e turismo costeiro. Embalagens de comida e bebida, cigarros, brinquedos de praia, preservativos, seringas, redes e linhas de pesca, ou sacos de plástico encabeçam a lista dos detritos mais comuns um pouco por todo o lado, refere o estudo da Greenpeace.

Pôr a mão na consciência e pensar que tudo o que possa ser feito é para bem de todos. É uma questão de educação, de civismo, de respeito pelo próximo. E ainda vamos muito a tempo. Basta haver vontade em fazer acontecer. O futuro está na nossa mão e depende de nós. Apenas de nós.

Rumos

por migalhas, em 16.07.07

O pião girou. Convicto e com a certeza do que é inevitável, escolheu o rumo certo a seguir. Aquele que Hércules algum em todo o seu esplendor de força e vontade consegue demover. Pois que o destino a todos finta. Pois que o destino é nosso. Pois que o destino é sorte, é sexto sentido, é ouvir o eu que nos grita o caminho a que só um dia daremos o real valor. A sorte protege os que ousam. Por que é ser e estar omnipresente, a cada passo existente.

Replay all

por migalhas, em 13.07.07

Faço o que faço

Cópia do que já fiz

Repito-me a cada dia

Num palco vezes sem conta pisado e de mudanças falho

 

Nada é novo, nem mesmo reinventado

Estático, parado, num limbo continuado

Imitação do que foram os dias

Pioneiros em tempos que por aí se quedaram

 

O que fui sou, o que fiz faço

Soa a escasso, a nulo existencial

Apenas revejo, nada aprecio

Sei-o de cor, este vazio, este viver sempre igual

Asas esquartejadas

por migalhas, em 12.07.07

Arrastam-se-te as asas
Dorso pesado voltado ao chão
Morre assim moribundo o pássaro
Ave repelenta do meu coração

São estes olhos que te vêem morrer
Que um dia do nada te guiaram em vão
São estes os olhos que não te querem conhecer
Assim infectado sem sombra de razão

Até podes resistir e dizer que voltaste
Que de nada me animas esta minha vontade
Na minha mente perdura apenas a tua figura
Nada segura, esfarrapada, de asas esquartejadas

São negros estes olhos, os olhos que te crêem assim
São o espelho do que és, foste, serás
São almas encardidas que na candura volátil se esfumam
São o que são, sou eu e tu também

Virá o dia em que te descobrirão
Velho renegado à razão
A que te entregaste na ilusão de que faria de ti alguém
Outro que não aquele em que te tornaste
Miserável, deplorável, sem direito a perdão
Ser macilento, sempre à cata de quem te desse a mão
Te servisse de tábua salvadora
Te servisse o ar e ainda assim to ajudasse a respirar

Foste de vez ou ainda aí estás?
Resistente como só a ruindade
Não fazes cá falta
Tanta ou tão pouca como a falsidade

Faces da vida

por migalhas, em 10.07.07

As faces de um dado, as faces da lua, as faces de qualquer moeda. São incertas umas, sequenciais outras, mas todas pródigas em consequências. Acontecem, aleatoriamente ou não, e nesse instante geram, originam, fazem acontecer. Numa roda-viva de sorte ou de azar, incontrolável mesmo naquela que se supõe evidente. Nada o é. Nunca o é. Trabalha na obscuridade, como um dissidente, um procurado. Serve-se das trevas e bate em retirada mal dissemina a sua febre maléfica. A maldade a meias com a vontade de surpreender. De ver reacções e com elas vibrar, face ao que é seu poder fazer acontecer. Joga-se na mão da fortuna uma e outra aventura. Quantas dão certo? Quantas imensamente mais dão aquilo que é inesperado? Numa onda de suposições, de nada nos valem as suas avaliações. Meros prognósticos a tentarem a sorte numa adivinhação sempre incerta, impossível no seu conteúdo. Não temos mão no futuro. Não existe bola de cristal que nos permita um vislumbre do que está para ser. Do que está além daquilo que hoje é. Somos o que somos. Poeira cósmica, pequenos, ínfimos, e é assim que devemos viver. Ou continuar a ser. Sem a presunção de que algo mais possa acontecer. Algo superior a nós, algo apenas digno dos deuses que nos viram nascer e, certamente, nos verão perecer. São estas as cartas. Aquelas com que nos compete crescer. E mais não devemos temer, apenas jogá-las ao sabor do que a consciência nos recomenda e deixar a vida fluir por si, rumo ao que só ela sabe ter para nos oferecer.   

3 Anos depois

por migalhas, em 07.07.07
Quarta-feira, 7 de Julho de 2004, Sábado, 7 de Julho de 2007. 3 Anos. 3 Longos e velozes anos. Que ocorreu neste período tão impossivelmente apressado? A vida, que mais! O seu ritmo avassalador, as suas agruras, as suas etéreas, se bem que fugidias, felicidades. Apontamentos que polvilham aqui e ali a marcha do tempo, fogachos de uma ilusão que nos foge, que não se queda para nos fazer realizados. Tanto para contar, tanto aqui contado, neste canto de confidencias mil, em que me exponho ao mundo nu e cru. O que sou, o que faço, o que fiz. Disso fui dando conta, disso me confessei. São 3 anos, não são 3 dias ou 3 semanas ou 3 meses. 3 Anos é tempo. Já conta, já faz mossa. Já alberga história, já possui conteúdo que vale a pena partilhar. Aqui deixei o rasto desse período. Dos próximos também aqui conto deles falar, dar-lhe forma e mais que me venha a lembrar. Vale o que vale. Pelo que dizem, por cada comentário, pelo esforço de manter o interesse, pela perseverança, pelo desafio, pelo amor que se lhe dedica. É um espaço sagrado, no sentido de um culto, de uma fé que se cultiva a cada dia, por dedicação à causa e, acima de tudo, pela vontade férrea em partilhar palavras e delas ouvir falar. São momentos irrepetíveis, inenarráveis, de uma intensidade sempre diferente, mas sentida sempre profundamente. Sou eu feito palavras. Sou literalmente eu, de há 3 anos a esta parte. Que a viagem continue e que por aqui se vão dando conta dos seus registos, neste diário de bordo pessoal.

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