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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Preservar o belo

por migalhas, em 21.03.07

Hoje é dia dos poetas. Daqueles seres abençoados pelo dom da escrita que em poucas palavras definem sentimentos, situações, vivências, ao mesmo tempo que lhes acrescentam um deslumbrante encantamento como mais ninguém o consegue. Por eles, o mundo seria uma imensa folha em branco, sempre a aguardar pelo explanar das palavras que a irão embelezar e cobrir de uma vida assaz especial. Um mero esquiço, um rascunho incompleto a antever o resultado final, por si só já é superior, digno de respeito e veneração. Pois que o uso da palavra escrita não é para quem quer, mas sim para quem teve o privilégio único de herdar a arte dos tempos, dos dotados que escrevem cada linha da história e nela se inscrevem em passagens especiais. É deles este dia. E da árvore. De todas as árvores. Das que já não o são e das que resistem estoicamente, como últimos porta-estandartes de uma cultura que um dia já as venerou e lhes guardou o respeito merecido. Hoje em clara extinção, devem a sua sobrevivência precária a alguns poucos que ainda acreditam ser possível evitar a sua anunciada morte. A árvore que tudo nos disponibiliza, desde o ar essencial que respiramos, ao papel. À folha branca, onde se escreve cada dia e se arquivam ideias de um tempo que não voltará a sê-lo. Faltando essa folha, onde se irão espraiar os poetas, onde irão eles dar vida ao seu pensamento sem paralelo, onde se voltará a ler o lado mais belo da vida? Quero acreditar que tudo não passará de um sonho mau. Que acordando deste pesadelo em que repousa corpo e mente, um brilhante novo mundo surgirá a meus olhos e nele voltarei a depositar a esperança que hoje me conduz pela mão rumo ao que nem imagino. Hoje é dia dos poetas e das árvores que lhes servem de sustento. É da sua natureza, mas também da nossa. Preservemos o que hoje se comemora, para amanhã podermos continuar a fazê-lo. Sem necessidade de recorrer à memória, senão àquela do poeta que um dia se saiu com tão belo e eloquente pedaço de escrita que a todos deslumbrou e fez recordar que a vida é aqui, é agora, é a simples contemplação do que nos rodeia.