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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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A matilha

por migalhas, em 16.11.06

«Decidido a certificar-se de que o pior lhe havia batido, não só à porta mas, mais do que isso, à dianteira do seu carro, entreabriu ao de leve a porta do seu lado e espreitou para o pavimento molhado. Uns metros atrás, estendido inanimado e flagelado pelas intensas e pesadas gotas de chuva, descortinou o que lhe pareceu ser o corpo de uma pessoa adulta. Voltou a fechar a porta e sacudindo a água que por breves instantes o incomodara, virou-se para a sua companheira. De tez pálida e sem reacção perceptível, esta mantinha inalterável a posição tensa que adoptara desde o momento do embate.»

In “A Matilha dos Desencantados”

 

            É este o ponto de partida para um drama que irá assolar cada uma das mentes que vagueiam por esta ficção, numa dolorosa viagem ao mundo do desespero. A culpa, o peso consciente, o desejo de remissão sempre adiada, tudo se concentra numa espiral de loucura incontrolada que irá conduzir a matilha ao total desencanto.

Por que não há 2 sem 3

por migalhas, em 15.11.06

Segundo recente conclusão do Congresso da União dos Editores Portugueses (UEP) a maioria dos portugueses não lê um livro por ano. Apontam como uma das causas os preços praticados que, em media, são superiores aos da Europa comunitária. Aliás, como quase tudo aquilo que consumimos. Mas adiante. Existe também uma clara falha no que concerne à divulgação da língua portuguesa, dos seus escritores e respectivos livros, o que faz com que a maioria dos interessados não cheguem sequer a conhecer a nova geração de esforçados autores que encaram este meio como uma verdadeira aventura, da qual pouco podem esperar em troca. Assiste-se à aposta mais do que ganha nos autores consagrados, que depois muitas das vezes nos brindam com obras impossíveis de ler ou de entender, esquecendo regras básicas da escrita que, considero eu, são essenciais à própria literatura em si. Mas adiante. Tudo isto para rematar dizendo que vou parir o meu terceiro herdeiro literário no próximo sábado, 18, no Palácio Beau Séjour, em Benfica. Uma obra que já houve quem a rotulasse de romance policial, mas que para mim é algo bem mais complexo, mais profundo. Intitula-se “A matilha dos desencantados” e é, como o próprio título indicia, uma áspera viagem ao lado mais duro e cru da realidade que a todos cerca, mas que apenas a alguns consegue quebrar. É desses que trata este meu último delírio, cujo registo se mostra mais denso, mais rude, quiçá mais chocante, mas essencial como reflexo do mundo vil e cruel que aqui vos exponho. Contrariem os dados estatísticos com que iniciei este texto e leiam pelo menos um livro este ano: o meu! Apareçam ao lançamento e descubram todo o desencanto desta matilha.  

Ricos presentes!

por migalhas, em 14.11.06

Se há coisas que eu detesto, e infelizmente ainda são umas quantas, é cagalhões de cães espalhados pelos passeios públicos, como se de exposições de detritos caninos se tratasse. Uma exposição em permanente actualização, onde ninguém recebe convite mas a que todos assistem diariamente, quer queiram, quer não. Desculpem-me a franqueza, mas são como minas que não nos matam mas moem muito. São inúmeros os locais dentro da cidade onde este flagelo nos atormenta e obriga a uma redobrada atenção aos passos que damos no empedrado, mas a zona onde presentemente me encontro a trabalhar, no Alto de Santo Amaro, a coisa é, de facto, um exagero. Bem sei que é moda ter um cão, que é muito giro andar a exibi-lo na rua aos vizinhos e amigos, mas e quando eles se cagam? E se eles se cagam! Principalmente aqueles maiorzinhos, que as pessoas tanto gostam de fechar em apartamentos sem condições mínimas para um caniche, quanto mais para certas bizarmas que por aí se vêem. Ele bem se fazem campanhas de sensibilização a tentar que os senhores donos dos cagalhões que abundam pela cidade os recolham e metam no caixote existente logo na esquina seguinte, mas a malta está mesmo é a cagar-se. Hoje, logo pela manhã, de nada me serviu toda essa disponibilidade para atentar por onde vou andando. Na tentativa de desviar-me de um primeiro que ali se plantava que nem cogumelos incomestíveis, eis que dou, não de caras, isso nunca, mas de sola com um outro, traiçoeiro, matreiro, falso, que sem se fazer notado de imediato se moldou à sola até então limpa das minhas botas, como um autocolante de aroma tudo menos agradável. Claro que logo ali roguei mil pragas ao porco do dono daquele cão que, naturalmente, teve de se aliviar, mas que não necessitava de ser ali, em plena via pública. Ou se fosse, que tivesse visto a sua obra de arte recolhida e devidamente acondicionada num local próprio. Pois não me parece que o seu dono também ande por aí a expor as obras de merda que materializa no momento em que vai obrar. Em resumo, tive de esfregar a sola em terra, relva, tapetes, e, ainda assim, sou de vez em quando brindado com uma réstea do tal aroma que, sei, me vai seguir o resto do dia, nem que seja ao nível psicológico. Gente porca, é só o que me apetece dizer. Será que o nosso imaginativo primeiro ainda não descortinou aqui mais uma fantástica fonte de receitas para os cofres do estado? Então e as coimas a aplicar a quem deixe os presentes dos respectivos cães em plena rua? E olhe que a ver pela quantidade, a coisa promete valores bem apreciáveis. Força nesta medida. Esta, tem a minha poia a 100%!