No acidente de Entre-Os-Rios, ninguém foi culpado pelo estado em que se encontrava a ponte no momento da queda de um dos tabuleiros que resultou na morte de 59 pessoas. No caso Parque, um ex-assessor da Câmara Municipal de Odivelas preso preventivamente desde 24 de Abril de 2004, e condenado em Fevereiro deste ano pelo Tribunal da Boa Hora a 19 anos (posteriormente reduzida a 14) de prisão por crimes de abuso sexual de crianças, actos homossexuais com adolescentes e posse ilegal de arma, foi libertado porque estava preso há 30 meses, ultrapassando o prazo máximo de prisão preventiva para este caso. No já enfadonho e arrastado caso de pedofilia da Casa Pia, certamente os culpados serão dados como inocentes e seguirão com as suas vidas, como se aquilo que protagonizaram, mas que ninguém conseguiu (ou quis, ou pode, ou...) provar, nada fosse. Alguém há-de acabar por culpar as crianças pela sua conduta imprópria e muitos dos abusados acabarão atrás das grades para que sirvam de exemplo a outros alunos da mesma instituição. No caso das ilegalidades agora provadas pelo Tribunal Constitucional, em que se constata que todos os partidos políticos infringiram a lei no financiamento das campanhas para as eleições legislativas, ou seja, ninguém sabe realmente quanto dinheiro entrou para as campanhas de cada um nem de onde veio, assim como se desconhece o que saiu e para aonde foi, certamente tudo será devidamente abafado, como é do seu interesse. Se contabilizarmos que entre estes se encontram aqueles a quem foi dado um voto de confiança nessas mesmas eleições para elaborarem as leis que nos regem e zelarem pelo seu cumprimento, então estaremos seguramente perante mais um caso que cairá em saco roto, do tipo em que ninguém sairá culpado seja pelo que for. Muitos outros exemplos se seguiriam, mas nem eu tenho tempo, nem as pessoas paciência para deles ouvirem falar. Ainda se, por uma vez, mesmo sem exemplo, justiça fosse feita, talvez alguém se propusesse a dar ouvidos a estes casos em que, invariavelmente e como disse o iluminado mas nem por isso menos fugidio com o traseiro à seringa (nomeadamente no caso de Entre-Os-Rios) senhor Jorge Coelho, a culpa morre solteira. É a justiça que temos, ou aquela que é possível, face ao poder dos lobbies e da sua pesada influência nesta versão já muito puída, mas ainda assim a dar cartas, da República das Bananas. Onde tudo se faz, tudo se permite e ninguém é chamado sequer à atenção.