“Na marginal, trânsito condicionado em Paço de Arcos, Alto da Boa Viagem e recta do Dafundo”.
Sempre igual, nunca falha. De tal forma, que já protagonizo um irrepreensível número de play back no momento em que a locutora debita aquelas palavras, sempre repetidas a cada dia. Será que ao fim-de-semana dizem o mesmo? Mas aí não fazia sentido. Pois sábado e domingo, mesmo assim, ainda são um pouco diferentes do resto dos outros 5 dias, que existem apenas para nos lembrar que a vida é essencialmente uma repetição de lances uma vez experimentados e para sempre revividos. Depois da hora, hora e pouco, de tortura até ao Parque das Nações – e não, nem sequer é para visitar o Oceanário ou assistir a um espectáculo no Pavilhão Atlântico – ainda tenho de ter estofo para andar às voltinhas que nem uma mosca a quem se arranca uma asa, para tentar a sorte em forma de lugar para a viatura. Estacionado, quase sempre a cinco minutos de caminhada do local físico de trabalho, dirijo-me à minha secretária onde repito os tiques, os métodos e os processos de sempre, a que acrescento os mesmos olhares para as pessoas do costume e onde aguardo pelas 19h00, esperançado de que possa sair em direcção a uma estrada livre de trânsito que me leve de regresso a casa em cinco minutos. Cinco minutos depois - mais hora, menos hora -, vou directo à minha mais recente perda de tempo - o ginásio, onde tenho de recuperar o joelho enfermo - e que me ocupa a parte final do dia até perto das dez. Depois é o duche rápido, um jantar a correr - e pouco isso mesmo mal desfrutado - e toca a tratar do banho e refeição da pequena Sara. Findo este processo, é de novo uma da manhã, ei, e depois são duas da manhã, ei, e é assim, desta forma doce, que acaba… ou começa um novo dia? Novo, disse eu? Em quê?