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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Natal (i)legal (Parte 1)

por migalhas, em 22.12.05
O Manel e o Jaquim todos os anos por esta altura faziam um forcing extra para tentarem angariar uns trocos, igualmente extra, que lhes permitisse um Natal um pouco mais folgado. Entenda-se por folgado, uma ceia de Natal com algo mais do que uns hambúrgueres do McDonald’s por companhia e um tecto onde se abrigarem do frio. Desde que a crise aguda se instalou nas vidas de todos, os dois têm igualmente protagonizado uma longa travessia do deserto (em sentido figurado, claro), o que se tem traduzido em momentos ainda mais difíceis do que aqueles a que, por norma, já estavam habituados. Nem o curso superior de magistratura do Manel nem a pós-graduação em artes gráficas do Jaquim, lhes tinha servido de salvação face ao rigor económico que se fazia sentir um pouco por todo o lado. Todos os anos aproveitavam o mês de Janeiro para fazerem o seu rápido balanço do ano anterior e logo se arrependiam de o fazer. Invariavelmente, eram acometidos de loucas tonturas que num ápice lhes subiam à cabeça, fruto de estômagos desprovidos dos ingredientes necessários ao bem-estar e vida saudável de qualquer ser humano. Cansados de não conseguirem atingir um nível de vida compatível com as suas habilitações, os dois buscavam no sótão das ideias algo que lhes servisse de tábua de salvação, face à adversidade dos elementos. E para tal, nada melhor do que observar o que se passa à nossa volta. De estar atento aos pormenores do dia-a-dia que, por norma, escapam às formiguinhas atarefadas que, abstraídas no seu pequeno mundo, levam uma vida de stresse que lhe tolda visão e sentidos em doses semelhantes. E foi precisamente em resultado dessa acuidade visual, que lhes surgiu a “IDEIA” a que logo atribuíram perninhas para andar, que é como quem diz, francas possibilidades de sucesso. Fartos da fria calçada lisboeta que tão bem conheciam ou dos viadutos e pontes que lhes serviam de tecto, os dois ambicionavam o que a maioria das pessoas possui, mesmo que sujeito a altas taxas de juro ou a spreads quase proibitivos: uma casa. E uma casa iriam ter. Ou várias. Dependia apenas do sucesso daquilo a que se aventuravam e que contemplava a sua versão pessoal do número até agora exclusivo dos Pais Natais de plástico. Ou será que ainda não repararam na febre de bonecos de plástico de encher (à venda ao preço da uva mijona nas lojas dos chineses) que decoram as fachadas dos prédios nesta época natalícia, simulando o Pai Natal a trepar às janelas, chaminés e afins? Ora como é ainda ninguém se havia lembrado de tentar uma ofensiva a algumas casas, a coberto dessa epidemia que grassa em barda por esta altura? E ainda bem, pensaram o Manel e o Jaquim. Traçado o plano, em linhas muito gerais, os dois trataram de adquirir umas fantasias de Pai Natal com os trocos feitos a estacionar automóveis no centro da cidade. Devidamente mascarados, só tiveram de escolher uns alvos acessíveis – de preferência rés-do-chão e primeiros andares – a que só tinham de aceder como fazem os bonecos que agora se propunham substituir. (Continua)