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Um merecido Natal (Parte 2) - Um conto de Natal

por migalhas, em 19.12.05
(Continuação)
Um alce mais afoito surgiu por entre o arvoredo e também ele parecia admirado com tamanha visão. As copas dos pinheiros eram casulos enormes de neve que neles se acumulara em grandes e pesados fardos. Retomou o passo e seguiu viagem. Ao longe, pôde distinguir o que parecia ser um pequeno amontoado de casas. Era-o, de facto. Estava perto da aldeia onde iria encontrar o lar de um velho senhor de longas barbas brancas a quem tinha de entregar uma mensagem. Das chaminés de todas as habitações, sem excepção, saíam baforadas de fumo que cortavam o ar gélido cá de fora, para logo se dissiparem. Uma imagem que logo lhe trouxe à memória o presépio que, todos os anos por esta altura, se erguia na praça central da sua terra natal. O rigor da época obrigava a que as lareiras se mantivessem em actividade grande parte do dia, mas principalmente no período da noite, mais frio por natureza. Ansiava por uma malga de sopa bem quente ou por umas quantas chávenas de café caseiro ainda a fumegar. Sabia que não lho recusariam, pois haviam-lhe dito que ali apenas vivia gente boa, de alma e coração. Apressou o passo e mal se aproximou da primeira habitação, logo a escolheu para tentar abrigar-se um pouco e retemperar algumas das forças, entretanto perdidas. Nem teve de bater com os nós dos dedos gelados uma segunda vez na maciça porta de madeira. Aberta, esta revelou uma senhora de tez enrugada, cabelo cor da neve e tronco curvado, que se apoiava a custo numa bengala tosca de pau ao mesmo tempo que se cobria com um longo xaile, que quase a tapava por inteiro. Sorriu, deixando ver uma boca quase ausente de dentes, e, mal viu o aspecto lastimoso em que ele se apresentava, logo o convidou a entrar na sua modesta habitação. Mal a porta se fechou atrás deles, pôde sentir a agradável mudança de temperatura que logo repôs alguma cor à sua face. Convidado a tirar as roupas húmidas, há tempo demais coladas à pele, foi-lhe ainda sugerido que tomasse um banho quente para tentar normalizar a temperatura do seu corpo. Ainda hesitou, mas acabou por aceitar a generosa oferta da velha senhora. Aquecida a água em grandes panelões no lume de chão da casa, esta foi seguidamente vertida numa espécie de pequeno alguidar que iria servir de improvisada banheira. A velhota afastou-se para o deixar à-vontade e após se libertar do resto das incomodativas roupas, entrou no alguidar onde o seu corpo gelado se foi adaptando à nova temperatura. Sentado e vencido pelo cansaço, em breve relaxava ao ponto de se deixar dormir. Fora uma longa e cansativa caminhada, sob condições climatéricas bastante agrestes, a que esta súbita e bem-vinda benesse punha cobro. Pelo que, dormir, era a consequência óbvia. Quando despertou, já a água estava morna. Tinham passado 45 minutos, que lhe pareceram 45 horas, e meio atabalhoado lá acabou por se aperceber onde estava. Reparou que não tinha onde se secar e quando se preparava para chamar a velhota, viu aproximar-se algo semelhante a uma miragem. Teria ele morrido e rumado directamente aos céus? Com uma toalha dobrada nos braços e envergando um longo vestido cor-de-rosa até aos tornozelos, chegava-se a ele a mulher mais deslumbrante que alguma vez vira. Os seus longos cabelos cor de trigo, olhos verde água rasgados num rosto de pele quase branca e feições semelhantes às de um autêntico anjo, faziam-no pensar se estaria efectivamente desperto ou ainda a sonhar o mais belo sonho de toda a sua vida. (Continua)