Somos de facto estranhos. Podemos andar todos os dias às turras uns com os outros, a refilar com tudo e por tudo, a desdenhar, criticar negativamente, a gozar com este ou com aquele apenas e só por que é mais gordo ou mais magro. Mas chegada a época natalícia, e quem sabe por obra e graça de um santo milagre, eis que mudamos. De um momento para o outro, do dia para a noite, de repente. Mudamos. Como se algures na nossa mente existisse um interruptor que nesta fase apagasse esse negativismo que nos verga e acendesse no seu lugar uma luz de esperança e bondade para com os outros. Tornamo-nos mais pacientes, compreensivos, até mesmo simpáticos. Chega-se mesmo ao ponto de, numa reviravolta fantástica, acordarmos em que aqueles a quem só brindávamos com palavras azedas e de rancor, afinal até são uns porreiros e, quem sabe, até algo mais. O diálogo espontâneo surge numa loja, na rua, numa fila de espera e não se lhe reconhece a fúria, a ira de outras épocas do ano. Definitivamente, algo de inexplicável sucede no período do Natal. De tal forma, que se fossemos visitados nesta altura por estranhos que nunca antes cá tivessem estado, eles iriam achar que não existe no universo povo mais pacífico e bem-intencionado que o nosso. Mas o que será que acontece com o nosso planeta no momento em que se instala esta quadra? Será um pó que os marcianos espalham sobre a nossa atmosfera a caminho das comemorações do seu Natal, com a intenção de nos proporcionar um pouco de paz? Será um automatismo de que nem nos apercebemos mas que, chegada esta época, se despoleta e nos activa o coração, libertando-o do estado congelado em que se encontra a maior parte do tempo? Ou será que em resultado de todos os enfeites, decorações e das próprias prendas, somos alvo de um transe profundo que nos tira do sério e nos liberta em direcção às despreocupações, despertando os nossos sentidos para os assuntos mesmo importantes que, por norma, esquecemos o ano inteiro? Seja qual for a razão, a verdade é que o espírito existe e é único. E saúda-se, sem dúvida que sim. Só é pena que o mesmo não se estenda a todos os 365 ou 366 dias de cada ano, justificando uma vida mais pacífica e de melhor entendimento entre as pessoas. Seria a concretização do Natal ao gosto do homem, como se apraz dizer. Desde que esse homem efectivamente decidisse que o queria 24 horas por dia, 7 dias por semana, e por aí fora. Talvez um dia, quem sabe, ele acorde para aí virado e não seja Natal. E então lhe sinta a falta.
Finalmente juntos. Invólucro e conteúdo, casca e recheio, exterior e interior, embalagem e livro. Ficam melhor assim, como tudo o que é feito para viver junto, em união. E é assim que vai ficar para a história, disso não tenho dúvidas.
Aberta a embalagem, é este o conteúdo que se apraz experimentar. Goste-se mais ou menos, uma coisa é certa: é totalmente natural, sem corantes nem conservantes. Enjoy it!
Que significado possuem os feitos que protagonizamos em vida? Às vezes pergunto-me qual o intuito dos mesmos. Serão recompensas pela actuação por que nos pautamos diariamente durante o curso das nossas vidas? Será que estavam já estipulados e apenas nos limitámos a cumpri-los, como se fosse a concretização do que nos estava destinado? Ou será que eram objectivos a que tínhamos de nos propor para, forçosamente, dar-mos algum sentido a este passeio pela avenida da vida? Custa-me a crer que sejam coincidências, felizes acasos ou meros resultados da sorte. Sempre ouvi dizer que isso da sorte é muito abstracto. Que a sorte somos nós que a fazemos e que, sem a nossa imprescindível contribuição, nem de perto nem de longe ela quereria alguma coisa connosco. Penso que temos uma missão. Todos temos, cada um a sua e em níveis de exigência e de complexidade diferentes, de acordo com o estado de cada um. Penso que são realizações a que temos de nos submeter para vencermos medos, ultrapassarmos obstáculos, descobrirmos novos caminhos, aprendermos a viver. Por isso os considero importantes, definitivos. Considero mesmo que quem vive sem objectivos, sem ambições em realizar certos e determinados feitos, acaba por não viver na realidade. Apenas por cá passa num nível primário, aguardando por subir a um outro onde então já comece a despertar para eventuais realizações. Preparo-me para o que considero ser o mais importante feito a que um homem se pode sujeitar. A poucos dias de ver nascer a minha primeira filha, fico convencido de que por muitas outras facetas que possa ainda cumprir em vida, esta será certamente a mais gratificante, a mais bela, a mais exigente. Espero saber corresponder-lhe, estar à altura, tudo poder fazer para que seja o feito de que mais me possa orgulhar. Que no dia em que tiver terminado a minha passagem terrestre, chegada a hora de avaliar o peso das missões a que me propus, possa concluir feliz que dei continuidade ao que um dia fui, ao que um dia pensei e defendi, ao que um dia sonhei. Que tenha conseguido transmitir os ensinamentos capazes de fazer da Sara uma pessoa única, que nos encha de orgulho, extensível também a ela pelos pais que teve e que tanto desejaram tê-la.
O que é isso de um romance publicitário? Será um novo género literário agora surgido para baralhar ainda mais quem se dedica a tentar rotular tudo aquilo que nos rodeia? Não. Nada disso. Romance publicitário, apenas porque resulta da fusão entre um romance - com os ingredientes que dele se pedem - e do cenário em que se move - o mundo publicitário nacional contemporâneo. Este é o conteúdo do livro. Do livro em si. Pois que este é também ele conteúdo de uma embalagem que o veste e acolhe até ao momento de ganhar vida nas mãos dos leitores. Vindo de um publicitário, de um criativo, este livro nunca poderia ser, apenas e só, um livro, como tantos outros. Teria obrigatoriamente de possuir uma roupagem própria, digna daqueles a quem diariamente se exige ideias e conceitos sempre inovadores, originais. Depois do sucesso que foi o lançamento em Oeiras, segue-se a dia 3 de Dezembro próximo a apresentação no Porto. É na FNAC de Santa Catarina, pelas 17h00, e calha a um sábado. Apareçam!
E se de repente um estranho lhe oferecesse flores? Ou encontrasse um branco de carapinha? Ou, se ao procurar o último livro do publicitário Miguel Teixeira, acabasse por descobrir que ele até vem empacotado e tudo. Como um sumo. Mas não se deixe enganar. Qualquer semelhança com um novo néctar acabado de lançar no mercado é pura coincidência. Essa embalagem apenas acolhe o fruto da mente criativa do autor, mantendo-o fresco e natural sem a adição de quaisquer corantes ou conservantes. Ponto de partida para o título. Sem corantes nem conservantes revela-se um retrato fiel do dia-a-dia de duas duplas de criativos e das suas performances nas respectivas agências de comunicação. Todas as noitadas, a comida de plástico, o sangue, suor e lágrimas por que passam, até chegarem ao mais mediático dos festivais internacionais de publicidade: Cannes. Tudo isto é narrado a cru, tudo isto reflecte um pouco da publicidade portuguesa dos nossos dias, tudo isto é o fado de um publicitário que finalmente se propôs a romancear o mundo em que se move há 14 anos.
O ainda recente sábado, 5 de Novembro, marca a data da sessão de lançamento do meu segundo livro, intitulado Sem corantes nem conservantes. Trata-se de um romance, com os ingredientes próprios do género, mas com a particularidade de se desenrolar no mundo que bem conheço da publicidade e dos publicitários deste nosso pequeno país. O local do evento Galeria Verney em Oeiras revelou-se pequeno para tamanha afluência de familiares, amigos e curiosos por esta obra. Afinal de contas, a sua aparência imediata - a fazer lembrar mais rapidamente um qualquer sumo de fruta -, deixava intrigado quem com ela se confrontava pela primeira vez. E compreende-se porquê. Passada a surpresa inicial, a reacção foi de satisfação e agrado pela forma como o conteúdo se expõe (ou não) aos olhos do público. Original, criativa, inusitada. Após a apresentação, que contou com as palavras de Rui Grácio (pela Pé de Página Editores), de Pedro Oliveira (Director Criativo Executivo da agência de publicidade HPP Euro RSCG) e do autor, Miguel Teixeira, seguiu-se a sessão de autógrafos que se prolongou noite dentro, num ambiente de grande descontracção e confraternização. Fica a promessa de novas iniciativas que visem promover a obra, em datas e locais a anunciar em breve. Feita a análise, minha e da editora, esta iniciativa pode considerar-se, desde já, um sucesso. Um excelente pontapé de saída, diríamos mesmo. Fica o desejo de que venham outras iguais, de preferência ainda melhores, mais concorridas e noticiadas.