Ainda e sempre, a escrita
por migalhas, em 19.10.05
Escrever coisas. Passo a vida nisto. Se não é no trabalho, é no lazer. Deve ser do hábito. Do hábito da escrita, quero eu dizer. Sempre a fazer puzzles com letras, a dar corpo a palavras e com elas elaborar o esqueleto de cada texto, por via de frases várias que lhe vão alimentando o sentido. A ideia que dá, visto assim a alguma distância, é que tudo ganha vida através de um simples passe de mágica. Que a escrita, aquela que um dia Teixeira de Pascoaes definiu como a área onde o homem melhor expressa o seu mais profundo íntimo, surge facilmente. Da mesma forma que se processa a respiração ou exprimimos uma opinião sobre determinado assunto. Mas não. Dá muito trabalho, requer muita pesquisa, aprendizagem, muita leitura de outros que têm sempre algo mais para nos ensinar. Depois é dar asas ao que nos vai cá dentro e justificar que a escrita é de facto, segundo Alberto Vaz da Silva, um meio de comunicação ímpar onde o inconsciente se revela tanto como nos sonhos. Tomando-lhe o gosto, dela ficamos servos. Ou mesmo dependentes, num grau difícil de explicar. Porque é ela que passa a permitir o escape diário, o exteriorizar dos mais variados sentimentos, o expurgar das adversidades de cada dia, num estado de introspecção próximo da meditação, que convoca a exclusividade da nossa concentração e dedicação. É algo que passa a circular na corrente sanguínea e por ela alastra a todo o corpo como um vírus incontrolável e devastador. É paixão como só existe a do genuíno amor. É vida em todo o seu esplendor. É entrega à mais bela das causas. É partilha de sentimentos, de sonhos, de ideais. É o que tem de ser e eu gosto assim. Espero que por muito tempo. Desejo que para todo o sempre.