O World Wildlife Fund adverte, apoiado em estatísticas da A&A Economic News Digest, que a população mundial faz actualmente um uso de tal modo exagerado dos recursos do planeta, que ultrapassa mesmo a capacidade deste em sustentar a vida que nele grassa. Por outras palavras, o ser humano consome actualmente 20% mais recursos do que aqueles que o planeta Terra pode gerar. Não são propriamente boas notícias, principalmente no dia de hoje, Dia da Terra. Para além de que dá que pensar. Pensar que estamos literal e deliberadamente a espremer o planeta e cada vez ele tem menos sumo para nos dar. Não seria altura de abrandar esta nossa escalada incontrolada, de desfecho mais do que previsível, e pensar um pouco naqueles que hoje nascem e que, por este andar e sem qualquer culpa, irão herdar um planeta moribundo? Penso que por respeito a eles, dever-se-ia, desde já, reduzir a nossa ânsia de querer mais e desejar antes ter menos. Para que possa dar para todos, mesmo para aqueles que ainda vêm a caminho. Ou seremos assim tão egoístas e egocêntricos, que não vemos que tudo o que possa acontecer amanhã só depende do que fizermos hoje? Para alguma coisa somos dotados de inteligência, espírito crítico e pensamento racional. Vamos fazer uso desses nossos atributos e pô-los ao serviço da vida. Nossa e deste planeta que nos acolhe sem nada pedir em troca, senão paz. Fica a esperança de que ainda consigamos ir a tempo de, pelo menos, remediar a situação. Para bem da Terra. Para nosso bem.
O Dia da Terra, que se comemora esta sexta-feira, coincide, curiosamente, com a notícia de uma possível instalação no nosso país uma central nuclear. Ora aí está uma coisa de que estávamos mesmo a necessitar. Que se lixem os fogos, a falta de água, de escolas, de hospitais, de tenho de continuar? A justificação para este projecto assenta em exemplos estrangeiros de casos bem-sucedidos, nomeadamente a França e a Finlândia, que conseguiram, segundo os responsáveis do projecto português, reforçar o abastecimento dos respectivos mercados nacionais. A construção de uma estrutura nuclear no nosso país, de acordo com os mesmos, poderia reduzir a dependência do exterior em termos energéticos e ao mesmo tempo ajudar a cumprir o Protocolo de Quioto, no que respeita à emissão de gases poluentes. Isso se a coisa não desse para o torto, algo que seria de todo provável atendendo à nossa apetência para a asneira, e houvesse um descuido de consequências desastrosas como as de Chernobyl, só para referir um exemplo. Querermo-nos comparar a países de facto evoluídos onde as coisas não acontecem por mero acaso, parece-me a mim ser um pouco pretensioso de mais. Ainda se houvesse antecedentes que nos dessem alguma garantia, mas a verdade é que olhamos para o panorama geral e, invariavelmente, ocupamos a cauda da tabela em tudo o que sejam desgraças. Por isso, penso que dispensamos muito bem mais uma e esta, ainda por cima, de dimensões que nem nos passam pela cabeça. Admitamos que não temos capacidade para um empreendimento desta envergadura. Não nos fica mal admiti-lo. Pior, ficará tentar justificar a incompetência que um dia mais tarde forçosamente dará origem a uma catástrofe, na qual nunca teremos mão. Por muito que nos custe. Hoje que se comemora o Dia da Terra, não me parece que esta monstruosidade seja a melhor prenda que lhe possamos oferecer. Logo a ela, que tudo nos dá de forma incondicional.