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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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O monstro

por migalhas, em 08.08.05
Conforme a perspectiva, 60 anos pode representar uma imensidão de tempo, da mesma forma que pode ser visto como uma brevidade. Em 60 anos pode esquecer-se muita coisa, mas pode ser curto para apagar uma lembrança traumática que, pela sua intensidade ou teor, não se canse de nos aparecer de quando em vez em forma de pesadelo. É de um caso destas características que passo agora a falar. Como muitos saberão, fez no passado dia 6 de Agosto 60 anos sobre o bombardeamento de Hiroshima e Nagasaki pelos Estados Unidos, facto que mudou definitivamente o rumo da segunda grande guerra que então se desenrolava. Depois do vil ataque perpetrado pelos japoneses em Pearl Harbour e que se quedou por um duro revés, não só nas tropas americanas mas essencialmente na sua motivação face ao conflito, pode dizer-se que era inevitável uma vingança como forma de travar o ímpeto aguerrido e decidido de uma nação japonesa que parecia querer ganhar supremacia face ao seu oponente directo. Como tudo carece de uma justificação lógica, também os americanos fundamentaram esta acção de retaliação como necessária face ao que então se entendia como uma clara ameaça ao mundo por parte de um oriente que se tornara mais e mais poderoso e motivado, principalmente depois da bem sucedida investida em Pearl Harbour. Até pode ser que tivessem razão e, caso não tivessem avançado para esse passo decisivo, o mundo hoje fosse outro, melhor ou pior, pouco interessa, mas dominado pelo oriente. Onde eu quero chegar, é que os japoneses atacaram uma zona estritamente militar, onde se sabia que repousava uma grande fatia da frota marítima das forças militares americanas e uma importante componente aérea, enquanto que os americanos optaram por largar duas enormes bombas atómicas sobre duas das mais povoadas cidades japonesas. A “Little Boy” e a “Fat Boy”, respectivamente sobre Hiroshima e Nagasaki. Só em Hiroshima, que à época possuía 350 mil habitantes, 220 mil foram afectados directamente pela bomba largada do bombardeiro US B-29 “Enola Gay”, dos quais 140 mil morreram às suas mãos na exacta hora em que esta atingiu o hipocentro, eram precisamente 8h15m da madrugada de 6 de Agosto de 1945. Seguiu-se Nagasaki, que embora mais pequena assistiu a um número de vítimas igualmente monstruoso – 148.800, sendo que 73.900 pereceram imediatamente face ao impacto. Tanto tempo passado e algumas gerações depois, ainda hoje são notórios os efeitos das radiações mortíferas que contaminaram toda a região afectada pelas bombas. Nomeadamente nos “hibakusha”, nome dado aos descendentes das vítimas dos bombardeamentos. Isto porque talvez não tenha sido assim tanto o tempo que passou. Ou porque a intensidade ou mesmo o teor do acontecimento foi de tal forma, que ainda agora nos povoa os piores pesadelos. Seja por que razão for, o fulcral é que não caia no esquecimento o facto de que um dia tal foi possível. Que à custa das vidas de milhares de inocentes, a humanidade pode prosseguir em frente, livrando-se de um monstro que estava prestes a fazer eclodir toda a sua fúria.