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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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O som do silêncio

por migalhas, em 01.07.05
É ensurdecedor o som do silêncio,
de um êxtase que nos relega para patamares a que nem a droga mais dura sequer ousa tentar.

É profundo o som do silêncio,
denso como o mais denso dos nevoeiros ou de negro pintado como a mais obscura das noites, a que se junta, revelador, o coaxar de uma rã e depois de outra e de outra, num coro, até então reprimido, que se escuta agradado em total sintonia com a natureza branda dos seus cantares.

É incrível o som do silêncio,
que nos arrebata no seu todo que, mesmo nada sendo, nos preenche e completa, como a derradeira peça que termina um puzzle complexo de tanta exaltação feito.

É tão abrangente o som do silêncio,
que tudo para si clama, sugando cada instante relembrado até ao seu tutano e quase de novo revivido só com a força do seu grito mudo.

É tão intenso o som do silêncio,
vibrante de movimentos estáticos, de pensamentos improváveis, de execuções irrealizáveis.

É tão constrangedor o som do silêncio,
mas da mesma forma libertador, como o voo de um ser alado que mais e mais afastado projecta para longe o nosso mais profundo e desterrado pensamento, para aquele outro lado só imaginado ou em transe abissal alcançado.

É o som do silêncio que nos toca e faz vibrar, numa pauta de notas fluidas mas impossíveis de executar.
Só ele assim nos permite pensar e à tona trazer o que já nem ousávamos sequer imaginar.

É tão revelador o som do silêncio,
pois ele a nós tudo diz, da mesma forma que tudo nos consegue confessar.