Menos um pedaço de pulmão
por migalhas, em 24.05.05
Ficou-se agora a saber, balanço feito do desgaste que o homem continua a infligir ao planeta em que habita, que o principal pulmão da Terra se viu de novo diminuído, desta vez em cerca de 6 por cento. Ele que já estava bastante reduzido em relação à sua dimensão original, vê agora ser-lhe subtraído mais um pedaço importante, e quiçá imprescindível, ao normal processo respiratório essencial à vida humana. Um contra senso. Pois se por um lado é fundamental à vida do homem, por outro é o próprio homem que tudo faz para o destruir. Ou seja, para se auto-destruir. É um pouco como a história dos fumadores. Que sabem o mal nefasto que o cigarro provoca aos seus pulmões e ainda assim não se coíbem de os destruir, num acto que tem tanto de estúpido e de masoquista, como de incompreensível. Mas não é característica do bicho homem pautar-se por iniciativas que pouco ficam a dever ao poder dedutivo ou mesmo à lógica formal de que se diz exclusivo detentor no reino animal? Se pensarmos que a floresta da Amazónia sofreu no período compreendido entre Agosto de 2003 e Agosto de 2004 um desbaste que ronda os 26 130 quilómetros quadrados - qualquer coisa como cerca de um terço da superfície do nosso país -, então é fácil de entender que o homem caminha a passos seguros para a sua auto-destruição, num conjunto assumido e perfeitamente consciente de acções por ele mesmo idealizadas e postas em prática. E se coloco as coisas nestes termos assim tão incisivos e contundentes, é porque me baseio em factos que só contribuem para que assim me exprima e que vêm servir de sustento a este meu raciocínio. Por outras palavras, trata-se da segunda maior área desflorestada no período de um ano, desde que - e é aqui que eu quero chegar - o governo brasileiro iniciou o acompanhamento da destruição da Amazónia, em 1988. Se tal não bastasse para dar razão ao sentimento de incredibilidade que dificilmente consigo esconder, a ele acresce o facto, tornado público, de que este ritmo alucinante de destruição da floresta veio surpreender os especialistas do exacto governo que tem por missão... controlar essa mesma destruição. Isto é ridículo ou é de mim? Fazer de parvos todos os habitantes do globo que fazem uso por igual dos benefícios provenientes desse, cada vez mais diminuto, oásis verde, é o que dá ideia ser a pretensão destes senhores. Esquecidos que estão, pela certa, que os índios são eles e que só começaram a evoluir a partir do momento em que nós os descobrimos, há pouco mais de 500 anos. Agora não façam é uso dessa sua prepotência bárbara, recusando ao resto do mundo o que é dele por direito. O benefício de poder ainda usufruir de um pouco de oxigénio que nos permita respirar sem o recurso a máscaras. Pois lá por que a Amazónia fica no seu continente, não tem que ser, nem tão pouco deve ser, alvo da sua falta de escrúpulos, de amor-próprio, de bom senso, enfim, de respeito, pelo que é mais natural e essencial à vida de todos nós. O ar que (ainda) respiramos é de todos e como tal não deve ser controlado ou condicionado por uma imensa minoria. Ainda por cima quando essa minoria não pesa, nem valoriza, o bem inestimável que tem a seu cargo.