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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Espírito patriótico

por migalhas, em 31.05.05
Não sou muito dado à política, o que não quer dizer que certas atitudes de determinados políticos da nossa praça não suscitem a minha crítica. Neste particular, não podia deixar de me insurgir contra o recente apelo feito pelo nosso PR, Jorge Sampaio, ao povo português, pedindo "espírito patriótico" para responder às necessidades do programa orçamental do governo. Então e quando medidas semelhantes partiram de governos de outras cores, que não as suas? Não mereciam, também elas e na altura devida, esse mesmo espírito? Ou, pelo menos, um apelo semelhante por parte do, então, PR que agora vem em defesa dos seus meninos? Dos meninos da sua cor política que lá colocou, graças à prepotência do poder de que usufrui por ser quem é? Que é feito da isenção e da coerência política, senhor PR, tão necessárias para quem governa os destinos de um país? Faltam-lhe? Agora que assiste, uma vez mais, ao claudicar dos seus protegidos? Ou tudo não passa de mais uma tentativa de tirar partido dos patetas que voltaram a apostar no PS para governo? Esquecidos de que, na sua última permanência no poder, pura e simplesmente abandonaram o país no caos que eles mesmos provocaram, resultado de um conjunto de asneiras políticas que, aliás, são sua imagem de marca? Olhe que nem todos os portugueses são estúpidos ou videntes crentes no tal milagre de Nossa Senhora de Fátima. Eram estes os salvadores da pátria? Que tudo fariam para defender os interesses dos mais desfavorecidos, dos mais carenciados, dos reformados? Com tanta areia atirada para os nossos olhos, torna-se mais difícil abri-los. A não ser que haja quem nunca os feche e se mantenha de olho vivo face a estes vira-casacas que apenas jogam a favor de quem lhes promete mais. Eu avisei aqui há uns tempos, quando os vi todos contentes a celebrarem os resultados das últimas eleições. Quem orgulhosamente lá os colocou, que aprenda qualquer coisinha. Pois isto é consequentemente repetido de cada vez que lá vão parar acima. Ou ainda não entenderam que, como políticos, os gajos do PS são uma nulidade? Espero que esta ida abusiva aos bolsos de (quase) todos, sirva de lição a estes que insistem em apostar no 13.

Ponte

por migalhas, em 27.05.05
Hoje parece estar quase tudo de ponte. Um termo curioso, instituído para dar forma àquelas 24 horas que se intrometem entre um feriado e um normal fim-de-semana de dois dias. Nas vésperas dessa soma desejada de vários dias de descanso, anda tudo excitado com o facto de terem ou não “a ponte”. Eu, mesmo que pudesse, nunca quereria ter uma ponte. Imaginam só o trabalho que uma coisa daquelas dá? E já não estou a pensar numa tipo 25 de Abril ou Vasco da Gama. Basta imaginar uma mais pequenina, que humildemente apenas tenha por função colocar em contacto duas margens opostas de um mesmo rio. Só uma ponte dessas já daria água de sobra pela barba. Tratar da sua manutenção, mantê-la transitável, cuidar da sinalização, cumprir escrupulosamente cada acção de fiscalização à estrutura, enfim, um sem número de coisas que dispenso bem. Mas mesmo sabendo a carga de trabalhos que uma ponte, por mínima que seja, pode acarretar, muitos são os que vivem quase que obcecados por uma, duas ou mesmo mais, durante um ano normal de trabalho. Não lhes chegam as tarefas que têm para cumprir nos seus empregos diários? Gente estranha esta, que, não satisfeita com essas tarefas, procura ainda trabalho extra nos dias que deveriam ser dedicados em exclusivo ao belo do descanso. Deixa-os. Quem corre por gosto, não cansa. Se o sonho de cada um é ter uma ponte, que a tenham. Não venham é depois dizer que lha deram e não a souberam aproveitar. Mais olhos que barriga? Talvez. Eu acho que já existem pontes que cheguem, por isso, sou contra a oferta indiscriminada de estruturas desta envergadura a qualquer um. Ou então, para as coisas serem bem feitas, deveriam avaliar-se as competências de cada pessoa que deseja ter uma ponte ou saber dos seus conhecimentos sobre a matéria. Estipulava-se um prazo para candidaturas a pontes, procedia-se a uma filtragem que daria lugar a uma selecção final e só então se colocariam esses finalistas perante alguns exercícios práticos e teóricos. Posto isto, eram escolhidos, no máximo, cinco candidatos por ano e a esses, e só a esses, se dariam as tais pontes. Ao fim do primeiro ano era feita uma outra avaliação, que tinha por objectivo avaliar o estado da estrutura, e se se visse que o seu detentor era merecedor de continuar a usufruir dela, então prolongava-se o contrato por mais doze meses. Isto sim, parece-me uma forma correcta e justa de ambicionar a ter uma ou mais pontes. Da forma como as coisas estão, até parece que vivemos na fartura, tantas são as pontes disponibilizadas. Aqui fica a minha opinião sobre este assunto. Agora tenho de ir, pois tenho uma ponte de que tenho de cuidar... a minha ponte de dia 27 de Maio. Adeusinho e até segunda!

Novo rumo

por migalhas, em 25.05.05
“É seguro avançar. Podes vir. Anda, sem medos”.
Tinha de transmitir-lhe confiança, incentivá-lo, dar-lhe força naquele seu próximo passo. Claro que tinha consciência de que aquele era, seguramente, o mais arriscado passo que alguma vez havia dado. Sabia da dificuldade, do medo, da insegurança, em último caso, do receio pela mudança. E por saber que uma simples hesitação poderia deitar tudo a perder, gritei-lhe bem alto que era hora de seguir.
“Chegaste tão longe, não vais ficar por aqui. Agora só te resta seguir, avançar.”
Queria deitar-lhe a mão, poder ajudá-lo de outra forma que não apenas por palavras e incentivos. Mas ele estava ainda longe do meu alcance. Restava-me então a voz e o que ela lhe pudesse transmitir. Também eu estava receoso de que o medo pelo desconhecido, pela novidade, o fizessem recuar. Mas sabia bem que não poderia demonstrá-lo. O que me saía cá de dentro, em força dos meus pulmões, não podia agora (não agora) demonstrar o meu estado de alma. Ele nem desconfiar podia de que também eu sentia receio. Voltei a chamá-lo, como que a acordá-lo do estado de inércia latente em que parecia acomodado. Como quando ficamos especados, vidrados num objecto que nos faz parar no espaço e no tempo. Sentimos o mundo em nosso redor, mas parecemos dele não fazer parte. Ausentes, nem que seja por instantes, parece que a tudo assistimos do exterior. Um mundo paralelo, onde só temos acesso por pequenos períodos de tempo. Uns breves flashes de que guardamos apenas curtas recordações nas nossas memórias sempre repletas e ocupadas por coisas mundanas e de tão banais entediantes. São milésimos que nos afastam de tudo o que somos, de tudo o que vivemos sempre igual. Assim ele parecia estar. E deixá-lo-ia, por tempo indefinido, de tão agradável a sensação. Mas não agora. Não neste segundo em que por obrigação tinha caminhar em frente e fazer-se ao novo estágio que cá fora o aguardava. À beira de partilhar a sua vida, de fazer dela realidade palpável para quem tanto o ansiava. Tudo estava nas suas mãos, tudo dele e só dele dependia. A sua mãe expelia ritmadamente golfadas de ar que o deveriam impelir à saída. Nove meses passados sobre um estado de calma continuado, agora prestes a ser quebrado. Mais um esforço, mais um chamamento, mais um trabalho conjunto a três, que por finalidade o tinha apenas a ele. Então por fim lá se tentou a espreitar. A experimentar a novidade que o aguardava cá fora, longe do ventre de sua mãe. Agora tão perto de se fazer à sua nova e inebriante vida, como que se sentiu compelido a avançar. A dar o tal passo rumo ao desconhecido. Para trás ficava o grau zero, o piso térreo, a estrutura base de quem ele haveria de ser. Ainda sujo, foi-lhe quebrado em definitivo o elo que ainda o ligava ao seu curto e recente passado. De agora em diante, apenas futuro. Chorou. Não por que o futuro lhe desagradasse, ou esta nova fase da sua vida. Mas porque sentiu na sua pele, ainda enrugada, o primeiro contacto real com o mundo exterior. Depois da dor, do esforço, a sensação repousante do dever cumprido. A lágrima de alegria que escondia as que, em fila, aguardavam a sua vez de se mostrar. A exaustão que agora dera lugar à ansiedade de ver, tocar, sentir, acarinhar. De respiração ainda ofegante, logo se viu aninhado nos braços de sua mãe, onde, merecidamente, iria repousar da aventura que tão valentemente acabara de protagonizar. Para todos era hora de mudança. O rumo estava tomado. Um novo rumo.

Menos um pedaço de pulmão

por migalhas, em 24.05.05
Ficou-se agora a saber, balanço feito do desgaste que o homem continua a infligir ao planeta em que habita, que o principal pulmão da Terra se viu de novo diminuído, desta vez em cerca de 6 por cento. Ele que já estava bastante reduzido em relação à sua dimensão original, vê agora ser-lhe subtraído mais um pedaço importante, e quiçá imprescindível, ao normal processo respiratório essencial à vida humana. Um contra senso. Pois se por um lado é fundamental à vida do homem, por outro é o próprio homem que tudo faz para o destruir. Ou seja, para se auto-destruir. É um pouco como a história dos fumadores. Que sabem o mal nefasto que o cigarro provoca aos seus pulmões e ainda assim não se coíbem de os destruir, num acto que tem tanto de estúpido e de masoquista, como de incompreensível. Mas não é característica do bicho homem pautar-se por iniciativas que pouco ficam a dever ao poder dedutivo ou mesmo à lógica formal de que se diz exclusivo detentor no reino animal? Se pensarmos que a floresta da Amazónia sofreu no período compreendido entre Agosto de 2003 e Agosto de 2004 um desbaste que ronda os 26 130 quilómetros quadrados - qualquer coisa como cerca de um terço da superfície do nosso país -, então é fácil de entender que o homem caminha a passos seguros para a sua auto-destruição, num conjunto assumido e perfeitamente consciente de acções por ele mesmo idealizadas e postas em prática. E se coloco as coisas nestes termos assim tão incisivos e contundentes, é porque me baseio em factos que só contribuem para que assim me exprima e que vêm servir de sustento a este meu raciocínio. Por outras palavras, trata-se da segunda maior área desflorestada no período de um ano, desde que - e é aqui que eu quero chegar - o governo brasileiro iniciou o acompanhamento da destruição da Amazónia, em 1988. Se tal não bastasse para dar razão ao sentimento de incredibilidade que dificilmente consigo esconder, a ele acresce o facto, tornado público, de que este ritmo alucinante de destruição da floresta veio surpreender os especialistas do exacto governo que tem por missão... controlar essa mesma destruição. Isto é ridículo ou é de mim? Fazer de parvos todos os habitantes do globo que fazem uso por igual dos benefícios provenientes desse, cada vez mais diminuto, oásis verde, é o que dá ideia ser a pretensão destes senhores. Esquecidos que estão, pela certa, que os índios são eles e que só começaram a evoluir a partir do momento em que nós os descobrimos, há pouco mais de 500 anos. Agora não façam é uso dessa sua prepotência bárbara, recusando ao resto do mundo o que é dele por direito. O benefício de poder ainda usufruir de um pouco de oxigénio que nos permita respirar sem o recurso a máscaras. Pois lá por que a Amazónia fica no seu continente, não tem que ser, nem tão pouco deve ser, alvo da sua falta de escrúpulos, de amor-próprio, de bom senso, enfim, de respeito, pelo que é mais natural e essencial à vida de todos nós. O ar que (ainda) respiramos é de todos e como tal não deve ser controlado ou condicionado por uma imensa minoria. Ainda por cima quando essa minoria não pesa, nem valoriza, o bem inestimável que tem a seu cargo.

Bateu asas e voou

por migalhas, em 20.05.05
Na retina ficou-me aquele corpo despedaçado. Vergado ao peso da morte que o colhera instantes antes. Imerso na multidão que o acompanhava, nem tempo teve de se esquivar ao embate. Um som seco e perfeitamente perceptível quanto aos estragos provocados, ecoou sonoramente pela enorme praça. Face à súbita ameaça, todos os outros debandaram de imediato e nem se aperceberam de que mais um dos seus os abandonava. No combate diário dos que se expõem e por isso enfrentam perigos assumidos. Inerte, desprezado e agora fora do baralho, era por todos esquecido como se nunca tivesse sequer existido. Já não contava, com ele já não contavam. Nada havia a fazer, senão deixá-lo entregue à sorte que, momentos antes, lhe fora madrasta. Marcado estava, que hoje seria o seu último dia, a sua última aparição pública com vida. Não mais esvoaçaria pela cidade, não mais pousaria observador nos beirais dos prédios, nos telhados, entupindo de caca algerozes e deixando furibundos os inquilinos que assim tinham de constantemente chamar quem os desentupisse. Terminados estavam também os seus raides aéreos sobre os transeuntes desprevenidos que, cá em baixo nas calçadas lisboetas, eram vítimas fáceis e impotentes das suas descargas fisiológicas. Iria deixar saudades? Nem tempo tivera de o saber, pois fora passado a ferro por aquele automóvel apressado, que nem se dignou a parar para se inteirar do seu estado. Mal passado, foi como ficou aquele pobre desgraçado. Menos um pombo a borrar a cidade de dejectos, menos uma ratazana com asas a sobrevoar de forma rasante as nossas cabeças. Este já foi. Para quando os próximos?

Fenómeno recorrente

por migalhas, em 17.05.05
Esta manhã aconteceu-me algo caricato. Aliás, agora que penso bem no assunto, posso mesmo dizer, por experiência própria, que se trata de um fenómeno recorrente a que nos sujeitamos diariamente sem sequer dar muito conta dele. A pedido da minha mulher, dirigi-me a uma farmácia onde deveria comprar três exemplares de uma determinada marca específica de escova de dentes. Após uma procura no stock existente, fui confrontado com o facto de só terem de momento um exemplar. “Da parte da tarde já temos mais”, apressou-se o farmacêutico a comunicar-me de forma prestável e solícita. É claro que perante tão escassa oferta, e necessitando eu de três, não me fiz rogado, tendo aceite a única ali disponível. Como não gosto de deixar as coisas pela metade - que neste caso era mais por um terço - resolvi visitar uma outra farmácia a caminho de casa. Lá chegado, fiz o mesmo pedido. Nova procura entre as existentes em stock e novamente sou brindado com o último dos exemplares, devidamente rematado pela justificação “da parte da tarde somos capazes de já ter mais”. Mas porquê apenas da parte da tarde? Eu queria era que tivessem sido capazes de ter já, agora, neste momento em que aqui vim, o que eu queria e não da parte da tarde. Será que se eu ali fosse da parte da tarde, arranjaria de certeza as duas escovas de que necessitava? Ou iriam dizer que “talvez amanhã já fossem capazes de ter mais”? Fico sem saber. Assim como fico sem saber porque é que, se só tinham um exemplar daquele artigo, não se preocuparam em pedir mais e assim evitar defraudar o cliente? Felizmente necessitava apenas de três escovas daquelas. Agora imaginem que tinha uma encomenda de 10! Teria eu de percorrer 10 farmácias da nossa vila de Oeiras? Se pensar que cada uma apenas possui um exemplar daquela escova, faz sentido o meu raciocínio, certo? Isto passou-se numa farmácia, mas o fenómeno é extensível a muitos outros sectores do nosso comércio. Veja-se o caso, também ele típico, dos restaurantes. Quantas e quantas vezes chego a um restaurante para almoçar, peço o que está na lista como prato do dia e recebo como resposta “esse já não temos”! Já não têm? Então estou num restaurante, à hora de almoço - logo hora de servirem o que têm na lista - e já não têm? Então para que é que serve um restaurante, se à hora das refeições já não têm aquilo que colocam na lista? Não é para isso que existem os restaurantes? Se calhar só servem salada de atum com feijão frade ou pataniscas de bacalhau com arroz de feijão à hora do pequeno-almoço. Única forma de entender como, chegada a hora de almoço, estes e outros pratos do dia já tenham acabado. Será que não estavam a contar com clientes para aquele dia, àquele almoço? Então para quê darem-se ao trabalho de abrirem, escreverem uma lista, em resumo, de existirem? Será que o gozo todo está em criar expectativas nos esfomeados clientes e depois brindá-los com vários baldes de água fria? Talvez. Mas não fica por aqui. Fui aos correios enviar duas cartas registadas. Pedi ao balcão se me disponibilizavam os respectivos impressos, ao que o funcionário me respondeu “de quantos é que precisa”? Então querem lá ver que estes impressos, que em tempos estavam expostos fora do balcão para que as pessoas os preenchessem antes de serem chamadas pelo seu número e assim evitarem esperas inúteis, agora também são racionados? Apeteceu-me perguntar ao senhor se era ele que os pagava, para estar a contabilizá-los daquela forma. A fazer-me lembrar o que em tempos acontecia num mini-mercado de um certo aldeamento turístico no Algarve, onde os produtos eram extra-taxados de uma forma estúpida, mas para nos cederem um mísero saco de plástico, de qualidade duvidosa, para os transportar, era quase necessário pedir por favor. Até ao dia em que acordei menos bem-disposto e logo por azar calhou-me a mim lá ir comprar o pão. Verdade se diga, a partir de então denotou-se um menor apego aos ditos sacos, ao ponto de hoje este ser já um assunto do passado. Em conclusão, assiste-se um pouco por todo o lado ao síndrome da “dose única”, como eu lhe chamo. Um fenómeno recorrente da nossa praça que se não for devidamente confrontado com a contestação generalizada de todos nós, terá certamente tendência para alastrar a níveis insuportavelmente ridículos. E depois quem é que vai sofrer com tudo isto?

Sempre a subir

por migalhas, em 09.05.05
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Olhares asiáticos - parte 3

por migalhas, em 08.05.05
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Olhares asiáticos - parte 2

por migalhas, em 08.05.05
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Olhares asiáticos

por migalhas, em 08.05.05
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