Dias não são dias
por migalhas, em 15.11.04
Hoje é aquele dia da semana que quase toda a gente parece odiar. Segunda-feira. Depois de dois dias de descanso e dedicados apenas a matérias do nosso exclusivo interesse, chegar às sete e meia da manhã de segunda-feira é coisa para dar com qualquer um em doido! Ele é o trânsito que se depara como uma barreira logo a dois passos da nossa porta, é o aturar os colegas mal dispostos no local de trabalho, são as lamúrias e as queixas que parecem escolher o início da semana - vá-se lá saber porquê - para se fazerem notadas, enfim, é todo um conjunto de factores que fazem deste dia o mais indesejado e temido por quantos o têm de viver. Porque às vezes é o que parece, que há dias que se assemelham mais a um "frete" que temos de suportar, quando deveriam ser 24 horas desfrutadas ao segundo e ao limite, tal e qual um bónus que nos é dado. Porque ninguém nos diz a nós - que constantemente tomamos a vida como garantida - que o tempo que hoje nos damos ao luxo de desperdiçar não nos venha a fazer falta no futuro. Face a esta visão corriqueira sobre a maior e mais valiosa das dádivas que possuímos, proponho uma outra perspectiva sobre a tão odiada segunda-feira. E quem diz segunda-feira, diz qualquer outro dia que mais pareça um fardo que temos de carregar. Na perspectiva da malta mais nova - supostamente a mais afectada e queixosa pela dura semana de trabalho e que teima em querer viver à frente do seu tempo - é enorme a vontade de passar em acelerado por cima desses cinco dias de sacrifício, para depressa chegar ao Sábado e ao Domingo. Mas isso é hoje, que são jovens. Pois à medida que as suas idades forem avançando, começarão a dar outro valor à vida que, então, parecerá querer fugir-lhes por entre os dedos sem qualquer possibilidade de controle. E só nessa altura irão aperceber-se de que a vida são todos os dias, quer sejam segundas-feiras, quer não. E então aí, tarde de mais, ou talvez não, irão sentir saudade do tempo em que que tinham todos os dias pela frente, dias esses que, pura e simplesmente, desprezaram e quiseram que passassem num abrir e fechar de olhos. Só porque eram dias em que tinham de trabalhar, dias em que tinham de fazer algo que não queriam ou porque, simplesmente, eram dias em que se deixavam abater por uma simples e ligeira contrariedade. Porque não quiseram ver então que todos os dias tem a sua beleza, o seu valor, sejam eles de sol ou de chuva. Porque se esqueceram então que existem n motivos de interesse em cada dia, mesmo que seja um dia de trabalho duro e intenso de manhã cedo até à noite. Porque os dias são como as pessoas, todos têm potencialidades. Basta saber e querer procurá-las. Porquê ver apenas o lado negativo das coisas? Se é que existe algum lado negativo. Será que essa visão pessimista não é apenas fruto de um estado permanente de insatisfação com a vida que quase nos afecta a todos? Que tal experimentar viver a vida todos os dias e deles tirar o melhor partido? Ver o seu "bright side", como diziam os célebres "Monty Python", para que mais tarde não nos arrependamos de ter passado ao lado da nossa vida, vivida apenas na pressa de que chegasse o dia de amanhã. Neste momento é o presente que conta e é nele que nos devemos empenhar. Para que o futuro seja um álbum de recordações e não um lamentar de tempo desperdiçado.