Mais uma praga
por migalhas, em 04.10.04
Está de volta a praga dos caçadores. Uma praga que considero ao nível da dos fumadores ou dos condutores que pecam por uma flagrante falta de civismo. E tudo porque não respeitam as leis que lhes exigem comedimento e restrições naquilo que protagonizam. É sabido que não podem caçar a menos de 500 metros das zonas residenciais, que não o podem fazer fora das zonas exclusivamente destinadas a essa actividade e que existe um horário estipulado para a realização desses seus intentos selváticos de tirar vidas por via do uso abusivo da força. Mas teimosos, insistem em forçar cada regra ao limite, indo mesmo para além das mesmas, sem que se sintam minimamente incomodados com tais infracções. Acordam as pessoas logo pela madrugada - quando estas ainda dormem - com tiroteios que mais se assemelham a zonas de combate como aquelas que vemos todos os dias na televisão, prolongam as caçadas bem para lá das horas limites e caçam inclusive espécies que não constam do "cardápio" das que se podem matar. Disparam as suas armas furiosas logo ali ao lado das casas devidamente habitadas, como que desejosos de fazer ver ao outros que são eles que possuem o poder bélico capaz de aniquilar a pouca bicharada que ainda resiste às suas ofensivas. E se calhamos a refilar, ainda somos sujeitos a argumentações estúpidas e de todo fora de propósito, para além de termos de aturar um vernáculo a todos os níveis deplorável. Até pode ser que nem todos os amantes da caça estejam ao nível boçal destes energúmenos que tudo fazem para acabar com o sossego e a paz que, supostamente, se deveria viver nas zonas rurais aos fins de semana. Mas, verdade seja dita, ou a classe toma medidas de combate à existência de elementos deste tipo nas suas fileiras e que tão má fama dão aos seus congéneres - quem sabe uma espécie de direito de admissão - ou não tarda passarão a ser vistos todos por igual, como um bando de irresponsáveis que, de arma em punho, vão por esse país fora espalhando barulho, falta de respeito e muito lixo à sua passagem. E mais engraçado ainda, é vê-los depois de toda esta "palhaçada" que armam em cada dia de caça, virem reclamar por condições que se dizem no direito de exigir, sob a desculpa de que se sentem injustiçados e ignorados pelos orgãos responsáveis por essa sua actividade. Fosse eu a mandar e não só os obrigava a recolher todos os cartuchos que se amontoam à sua passagem, como ainda eram obrigados a pagarem elevadas multas por interferirem ininterruptamente com o descanso que as pessoas civilizadas e avessas a detonações sem sentido têm de aturar de cada vez que se inicia uma nova época de caça. Como muitos fumadores e condutores da nossa praça a quem falta respeito e um pouco de educação que lhes permita viver em sociedade, também os caçadores se sentem vítimas de uma descriminação que dizem não entender. Experimentem fazer uso de um pouco do civismo que constantemente desprezam e, quem sabe, se faça luz nas suas cabecinhas apenas vocacionados para a "matança" que só vêem à frente e que lhes obstrui a visão de uma realidade que cada vez menos se coaduna com actos selvagens como os que protagonizam e que, com a finalidade de satisfazer o gozo pessoal de matar, os conduz à perseguição impiedosa das mais variadas espécies animais indefesas com o intuito único de as privar das suas pacíficas vidas.