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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Captar momentos

por migalhas, em 13.09.04
Ao tirar uma fotografia, capto um determinado momento que para sempre se manterá inalterável. De cada vez que pretendo recordá-lo, é só ir ao álbum onde essa mesma foto se encontra e dar-lhe uma olhadela para assim refrescar a memória. Se fosse a juntar todos os momentos que consegui “congelar” através de um simples “click”, quase poderia mostrar os passos mais importantes dados na minha vida até agora. Mas esse “agora” é também ele um momento e como tal apresenta um período que é válido até ao próximo “click” que eu der naquele milagroso botão que depois se encarrega de parar as nossas vidas. Ou os momentos mais apetitosos, pois raros são aqueles menos bons ou mesmo desagradáveis que fazemos questão de guardar em película. Mas o mais engraçado de uma foto, qualquer que ela seja, é voltar a visualizá-la passado um certo e determinado período de tempo, que pode ser maior ou menor consoante o acontecimento que ela retrata. Engraçado pode ser um termo exagerado, pois a algumas fotos adequar-se-á mais algo do tipo estranho, doloroso, ridículo ou mesmo curioso. Como se tivéssemos perdido contacto com aquele mundo, aquele ambiente que ali se encontra e que para sempre parou no tempo, naquele instante. Quantas e quantas fotos existem e já nada nos dizem. É certo que naquela altura, em que foram tiradas, faziam todo o sentido e mostravam claramente um estado de espírito que as justificava. Ou ao objectivo de mais tarde servirem de doce recordação. Mas agora, passados todos estes anos e depois de tantas reviravoltas na vida, perderam todo o encanto e de nós apenas recebem um sorriso tímido, uma lágrima isolada ou uma reacção de raiva incontida que acabam ali com a sua, até então pacífica e útil, existência. Todos nós somos um acumular de histórias, de momentos por que passámos e que todos juntos compõem a manta de retalhos que é a nossa vida. Por isso mesmo todas as fotos possuem igualmente uma história. Todas elas guardaram naquele segundo em que foram tiradas sentimentos que passados muitos anos podem ser alegre ou dolorosamente recordados. Se no instante em que gravamos aquele momento, que tenderá a perdurar no tempo, pudéssemos prever o que ele irá representar no futuro, será que o guardávamos à mesma para mais tarde nos martirizarmos ou rirmos com ele? Ou seria suficiente a nossa própria memória para se ocupar dessa tarefa? Como tudo na vida, uma fotografia vale o que vale. Resta-nos pensar que fomos apanhados numa esquina da nossa história pessoal e ali ficámos, imóveis, expressando o que naquele momento sentíamos. Se hoje sentimos de maneira diferente, a culpa não é da fotografia.