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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Toca a "encher"

por migalhas, em 30.09.04
Cansado de usar todo o tipo de pesos nos bolsos por forma a evitar levantar voo de cada vez que faz um pouco mais de vento, resolvi regressar à prática da musculação - actividade que já pratiquei outrora - na tentativa de ganhar mais algum volume muscular que me sirva de âncora. Com um peso visivelmente abaixo do indicado para a minha estatura, tenho esperança de que este exercício extra obrigue o meu organismo a assimilar a comida que ingiro em quantidades apreciáveis mas que parece não me fazer proveito algum. Talvez o apetite aumente - embora nunca me tenha faltado - ou mude as suas características de acordo com as diferentes necessidades que o organismo irá agora experimentar. Passados os primeiros dias - aqueles dolorosos em que descobrimos músculos do nosso corpo que nem imaginávamos existir - as coisas começam a compor-se e a ganhar forma. Há um programa de exercícios a seguir, um aumento gradual dos pesos e a esperança de que deixem definitivamente de me confundir com um crucifixo ou de me apelidarem de "espinafre". Estando eu com 38 anos - idade que já pende mais para o lado dos "quotas" do que dos jovens, propriamente ditos - não conto ver crescer a minha massa muscular a pontos de me tornar um Schwarzenegger. Até porque não é essa a minha intenção, embora admita que muito jeito poderia dar em dias de compras, alturas em que me sinto tal e qual um burro de carga - ou qualquer outro animal explorado para esse efeito - a que só faltam os alforges. Resta agora a parte mais difícil: a perseverança e a vontade de continuar um desporto solitário por natureza, facto que, aliás, foi decisivo para a minha desistência da outra vez que o pratiquei. Para o tornar mais "tragável", costumo adicionar-lhe uma dose de música a dar para o barulhento num volume que acaba igualmente por exercitar os tímpanos, que, como qualquer outra parte do corpo que se digne, também tem direito a ser exercitada. Agora deixo-vos, pois tenho ali uns quilinhos para levantar. Ou, como dizia o outro, vou para a minha sessão de pesos e altares!

Dos fracos não reza a história

por migalhas, em 28.09.04
Escrevo... nem sei bem sobre o que escrevo hoje. Talvez sobre as pessoas que teimam em matar-se umas às outras, não compreendendo que, com os seus actos inqualificáveis, privam à sua vítima o direito mais básico que assiste a qualquer ser humano, o direito à vida. Talvez escreva sobre as pessoas que constantemente faltam ao respeito umas às outras. O sustentáculo base da educação e da sã convivência em sociedade. Poderei ainda escrever sobre a ignorância que as pessoas a cada momento demonstram e que contribui para o acumular de equívocos que muitas vezes acabam em situações limites tão ou mais graves que o homicídio ou a falta de respeito pelos seus iguais. Ou poderia deixar aqui umas linhas sobre a falta de interesses, de objectivos que uma grande fatia da nossa população apresenta. Dos desempregados aos reformados, passando por gente mais nova e, à partida, supostamente dotada de outra forma de pensar, muitos são os que desperdiçam os seus dias com banalidades próprias de quem não possui qualquer meta em mente. Limitam-se a existir, a criticar, a falarem mal, a colocarem tudo em causa, a criarem conflitos e a gerarem ambientes negativos por onde passam, em resumo, atrapalhando quem tem responsabilidades concretas e reais diariamente. Poderia escrever sobre inúmeros temas. Mas fosse ele qual fosse, contaria sempre com a presença de um denominador comum a todos eles: o factor humano, as pessoas. As maravilhas que elas, querendo, podem protagonizar, mas também o reverso dessa medalha. O mal, a inutilidade por que, em norma, acabam por optar. Quantas e quantas vezes se ouve falar de delitos, pequenos ou grandes, de atentados à ordem pública, de crimes das mais variadas espécies, que posteriormente se pretendem desculpabilizados pela instabilidade mental dos seus autores? Mas será que para fazer o mal existe sempre uma desculpa válida? Por que será que lhes dá sempre para esse lado? É de pensar que, havendo mal e bem, haveria 50% de hipóteses para cada um deles. Então por que optam invariavelmente pelo mal? Tem ele assim atractivos tão mais aliciantes que o bem? Destruir sempre foi mais fácil do que construir, é verdade. Dizer mal custa muito menos do que elogiar. Apontar problemas é sempre mais prático do que sugestionar soluções. É aquilo que usualmente se denomina de "tendência para a asneira". Algo que começa bem cedo, ainda em criança, e que sem o devido bom senso, que deveria acompanhar o crescimento em direcção à fase adulta, pode tornar-se uma perigosa arma capaz de feitos a todos os níveis reprováveis. E é pena que assim se pense. É pena, porque é muito o potencial que se encontra por aí desperdiçado, simplesmente porque as pessoas não estão para se maçar. É um pouco como os jogadores de futebol pagos a peso de ouro. Joguem bem ou joguem mal, no fim de cada mês têm a sua fortuna disponível na conta bancária. Então para quê esforçarem-se mais, se não ganham mais por isso? Dá mais trabalho, requer mais empenhamento e para isso nem todos estão dispostos. Para esses será sempre mais fácil continuar a falar mal, a implicar com tudo e com todos, a usar o "mexerico" e o "disse que disse", a "lavarem daí as suas mãos", a "sacudirem a água do capote", enfim, a gerarem um ambiente à sua volta que os fará sentir de mal com o mundo e com todos aqueles que passam religiosamente a odiar e a detestar até ao fim dos seus dias de perfeita inutilidade.

Regresso ao passado

por migalhas, em 27.09.04
Regressei recentemente a um cantinho que durante muitos anos partilhei com os amigos de então e que hoje, passada mais de uma década, revisito com saudade. O lugar em questão está hoje mais votado ao esquecimento e já não se sente o calor do convívio que ali se viveu durante muitos e atribulados dias daqueles loucos anos 90. Os namoros, os amigos, os interesses, as escapadelas que todos ali dávamos para estarmos apenas juntos e partilharmos o prazer das respectivas companhias. Desses tempos ficaram algumas fotos nas paredes - fotos essas que o tempo degradou - e muitas outras provas da presença de cada um naquele que era o nosso espaço por excelência. Ali se formou o nosso grupo de rock, ali se compuseram inúmeros temas, ali nos juntámos em sessões que se prolongavam noite dentro e onde improvisávamos horas a fio apenas pelo prazer da companhia e da música que tanto nos unia e preenchia. Hoje olho aquelas paredes recheadas de recordações, de datas inscritas que o tempo não apagou, de pensamentos escritos, de fotografias que me fazem viajar ao passado e pelo passado e sinto uma nostalgia que me preenche e alegra. Porque foram tempos que não se repetirão, porque foram tempos de loucura própria de quando se é mais novo, porque foram tempos que deixaram uma saudade difícil de apagar. Mas essencialmente porque a maioria daqueles com quem partilhei aquele espaço ainda hoje se mantêm por perto e com eles continuo a lidar dia após dia. A amizade mantém-se, cresceu mesmo e se perpetuará no tempo, desta vez para o futuro que sei será um prolongamento do que hoje ali recordo com saudade. Muitos planos ali se traçaram, objectivos, desejos, sonhos. Se não se realizaram - se calhar nem 10 % dos mesmos - pouco importa. Pois na época eram essas ambições de quem é novo e tem sonhos que nos moviam. Que nos faziam caminhar e nos serviam de motivação. Foram horas de conversa que nos mantiveram unidos, ajudaram a criar laços inquebráveis e contribuíram para o cimentar da nossa amizade. Ao voltar àquele local, hoje praticamente esquecido, sinto que muitas e muitas histórias ali se contaram, ali se viveram e só lamento que as paredes não me as possam recordar uma a uma. Ficaram os vestígios desses tempos bons que não mais hão-de voltar. Tempos de loucuras próprias de quem começava a abraçar uma vida de mais responsabilidade e que já então sabia haveria de apagar aos poucos o que ali se vivera. Hoje já ninguém ali se desloca. O que não quer dizer que não se sinta ainda, aqui e ali, o vibrar de tudo aquilo que então se viveu. Eu voltei. E ao fazê-lo, voltei igualmente a sentir um estranho arrepio, uma estranha sensação que há muito julgara esquecida. Um sorriso acompanha cada nova espreitadela a cada fotografia que, embora perdida na memória do tempo, continua bem viva na minha memória e na daqueles que as protagonizaram. Eles hoje já não frequentam este local. Mas se cá voltassem e o olhassem como eu voltei a olhar, iriam sentir que nada mudou, que a amizade perdurou e que tudo o que ali se viveu jamais se perderá. Porque foram dias únicos que preencheram os nossos corações e nos fizeram felizes então, como ainda o fazem hoje. Tanto tempo passado.

Desejos VS Felicidade

por migalhas, em 22.09.04
“Que género de coisas nos faz fantasiar? As fantasias têm de ser irrealistas. Porque no momento, no segundo, em que são concretizadas deixamos de as desejar. Para continuar a existir, o desejo deve ter o seu objectivo eternamente ausente. Não é “aquilo” que queremos, mas “aquilo” como objecto de fantasia. Assim, o desejo sustenta fantasias malucas. Só somos verdadeiramente felizes quando sonhamos com a felicidade futura. Ou aquilo que nos leva a dizer “a caça é mais doce que a presa” ou “cuidado com aquilo que desejas”. Não por podermos obtê-lo, mas porque estamos condenados a desdenhá-lo, mal o tenhamos. Vivermos segundo os nossos desejos nunca nos fará felizes. O significado de se ser plenamente humano é tentar viver com base em ideias e ideais e não avaliar a nossa vida por aquilo que alcançámos em termos de desejos, mas sim por aqueles pequenos momentos de integridade, compaixão, racionalidade e até mesmo abnegação porque, no final, a única forma de medirmos o significado das nossas vidas é avaliando as vidas dos outros”.

Pascal Lacan

Ossos do ofício

por migalhas, em 20.09.04
Quem quer que seja que exerça uma actividade, seja ela qual for, tem de se sujeitar aos mais variados condicionalismos que a mesma implica. Não é novidade nenhuma que assim é. Por exemplo, aquele que é músico tem de se sujeitar a tocar em pleno Verão à torreira de um sol escaldante ou por vezes, no Inverno, debaixo de um temporal e de um frio tais, que nem permitem que a voz aqueça. E depois tanto está hoje no norte do país, como amanhã tem de estar no sul para mais um espectáculo. O palhaço, por exemplo, uma das profissões mais difíceis de que eu me possa lembrar, tem de estar todos os dias bem disposto, alegre e a fazer as maiores patetices para alegrar uma platéia sempre sequiosa de uma boa... palhaçada! E sabe-se lá quantas e quantas vezes o pobre profissional, camarada, amigo, palhaço se encontra com a disposição adequada àquilo que tem de protagonizar durante o seu número. Vejam-se os actores de cinema e de teatro. Representam tantos e tão diversificados personagens, que às tantas já nem eles sabem, ou sequer se lembram, como são na realidade, sem vestirem a pele de um dos papéis que continuamente interpretam. Uma outra profissão igualmente indispensável à nossa sociedade consumista, é a do “homem do lixo”, ou se quisermos, responsável pela recolha dos detrítos de todos nós. São toneladas de lixo que hoje em dia se produz em cada cidade e para isso todos nós contribuímos diariamente com uns quantos quilinhos. E quem é que fica encarregue de mexer nos nossos desperdícios, nos nossos detritos e levá-los para onde os mesmos possam ser devidamente reciclados? O “homem do lixo”. Que todos os dias deve pensar que não lhe poderia ter calhado em sorte profissão mais suja. Por estes escassos exemplos, mas que penso são reveladores, se pode constatar que não existe bela sem senão. Ou seja, não existe profissão que tenha os seus contras. Eu que sou publicitário, não podia deixar de dar a minha contribuição para esta exposição. Quem estiver por fora deve achar a profissão aliciante e cheia de desafios. É, disso não tenham dúvidas. Mas se vos disser que muitas são as vezes em que temos de ir contra os nosso princípios e fechar os olhos ao que só nós sabemos de forma a conseguirmos “impingir” um certo e determinado produto a um consumidor que quantas vezes nem precisa dele mas que, graças à nossa insistência, não só vai passar a precisar como poderá inclusive vir a achá-lo imprescindível na sua vida, então ficarão com uma pequena ideia daquilo que também é esta área. Um mundo de sonhos, de ilusões que todos os dias vendemos a quem deles tanto necessita para se afirmar, para ser aceite ou simplesmente para se auto-satisfazer. São os ossos de cada ofício, de cada profissão. Sapos que temos de engolir diariamente e esquecer logo de seguida, para que possamos andar para a frente minimamente de bem connosco. E é para quem quer. Pois quem não quiser precindir da devida limpeza da sua consciência, pode sempre dedicar-se a uma outra actividade qualquer que não apresente destes esquemas complicados de gerir. Mas será que existe tal coisa? Se alguém souber de um ofício isento de ossos, onde apenas possamos usufruir da carninha tenrinha, diga qualquer coisa. Eu vou estar por aqui, aguardando.

Elementos

por migalhas, em 17.09.04
Quantos anos têm as pedras que piso?
E o pó que se levanta à minha passagem?
Tudo ou quase tudo, a grande maioria das coisas, já existia antes de eu cá chegar. Alguém as pensou, alguém as idealizou e deu-lhes forma. Hoje são banais e por elas passamos sem muitas vezes lhes darmos o devido valor. Mais que não seja pela necessidade que esteve na base da sua criação. Se hoje temos tudo, ou quase tudo, a grande maioria das coisas, é porque alguém antes se lembrou delas. E se não as valorizamos a culpa é nossa, que nem lhes sentimos a necessidade. Que depressa surgiria na hora em que nos víssemos privados delas. “A necessidade é a mãe da criação”. A razão de todas as coisas, dizem. Mas preciso eu das pedras que piso? Do pó que se levanta à minha passagem? Esses elementos ninguém os criou, já existiam antes de existirem quem o resto criou. Assim como o mar, o céu, as montanhas, os vales, o fogo, o ar que respiramos. Ninguém os pensou ou idealizou, mas sem eles não viveríamos para noutras coisas pensar. E lembramo-nos deles? Damos-lhe valor, aquele que todos sabemos possuirem? Creio que sim, pois a esses estamos e estaremos sempre ligados. Uns mais do que os outros, mas todos reconhecem a sua fulcral importância nas nossas vidas. Por isso já cá estavam quando aqui cheguei. Quando todos nós aqui chegámos. E continuarão, muito para lá das nossas partidas. Porque são eles, e só eles, que permitem tudo o resto.

Amigos

por migalhas, em 15.09.04
É impressionante aquilo a que a vida de hoje nos obriga. Um exemplo que a todos, sem excepção, diz muito é o que respeita às convivências diárias. Ou seja, se contabilizar-mos o número de horas que durante uma normal semana de trabalho passamos com a família, os amigos ou as pessoas de quem mais gostamos, concluiremos que poucas são se comparadas com aquelas que dispendemos com os outros. Entenda-se por "outros" os colegas de trabalho ou de profissão que, raras excepções, podem tornar-se grandes amigos ou mesmo virem a constar da lista daqueles de quem mais gostamos. Mas nem sempre é assim. Infelizmente, todos os dias somos obrigados - sim, porque ninguém nos dá a escolher aqueles com quem queremos ou gostaríamos de trabalhar - a lidar, a aturar, a confraternizar com pessoas que pouco ou nada nos dizem, apenas porque partilham o mesmo espaço ou o mesmo local de trabalho que nós. E nem sempre esse facto é sinónimo de uma convivência pacífica, pois há quem dedique o seu dia-a-dia a tentar levar à loucura aqueles que são seus colegas de profissão, assegurando assim um clima de desconfiança e de revolta generalizada que se instala e propaga como um vírus letal. E mais grave do que essa sua postura, é o facto de muitas vezes serem esses elementos que nada produzem - senão distúrbios e falta de companheirismo - aqueles que mais recompensas ganham e mais consideração obtêm do patronato. Não raras são as vezes em que vemos esses elementos subirem na escala hierárquica de qualquer empresa, à força de intrigas, do "disse que disse", do "chibanço" ao patronato daquilo que se passa no local de trabalho, enfim, de tudo menos do que seria o mais natural, brio e competência profissional. Por tudo isto, são muitas as pessoas que anseiam desesperadamente por cada fim-de-semana, para só então poderem aliviar a sua cabeça daquele local onde todos os dias têm de aturar uns quantos "colegas" que lhe fazem a vida negra. Para durante, pelo menos dois dias, poderem estar com a família, com os amigos, com aqueles de quem realmente se gosta e com eles conversar, sem medo de que aquilo que se diz possa ser usado como arma que mais tarde nos irá causar dano. Porque é para isso que servem os amigos, os verdadeiros amigos, para nos ouvirem, nos aconselharem e estarem do nosso lado nos bons momentos mas, acima de tudo, nos momentos menos bons. Naqueles momentos em que deles mais necessitamos. A esses amigos, só temos de agradecer por serem assim e estarem disponíveis sempre que os solicitamos.

Captar momentos

por migalhas, em 13.09.04
Ao tirar uma fotografia, capto um determinado momento que para sempre se manterá inalterável. De cada vez que pretendo recordá-lo, é só ir ao álbum onde essa mesma foto se encontra e dar-lhe uma olhadela para assim refrescar a memória. Se fosse a juntar todos os momentos que consegui “congelar” através de um simples “click”, quase poderia mostrar os passos mais importantes dados na minha vida até agora. Mas esse “agora” é também ele um momento e como tal apresenta um período que é válido até ao próximo “click” que eu der naquele milagroso botão que depois se encarrega de parar as nossas vidas. Ou os momentos mais apetitosos, pois raros são aqueles menos bons ou mesmo desagradáveis que fazemos questão de guardar em película. Mas o mais engraçado de uma foto, qualquer que ela seja, é voltar a visualizá-la passado um certo e determinado período de tempo, que pode ser maior ou menor consoante o acontecimento que ela retrata. Engraçado pode ser um termo exagerado, pois a algumas fotos adequar-se-á mais algo do tipo estranho, doloroso, ridículo ou mesmo curioso. Como se tivéssemos perdido contacto com aquele mundo, aquele ambiente que ali se encontra e que para sempre parou no tempo, naquele instante. Quantas e quantas fotos existem e já nada nos dizem. É certo que naquela altura, em que foram tiradas, faziam todo o sentido e mostravam claramente um estado de espírito que as justificava. Ou ao objectivo de mais tarde servirem de doce recordação. Mas agora, passados todos estes anos e depois de tantas reviravoltas na vida, perderam todo o encanto e de nós apenas recebem um sorriso tímido, uma lágrima isolada ou uma reacção de raiva incontida que acabam ali com a sua, até então pacífica e útil, existência. Todos nós somos um acumular de histórias, de momentos por que passámos e que todos juntos compõem a manta de retalhos que é a nossa vida. Por isso mesmo todas as fotos possuem igualmente uma história. Todas elas guardaram naquele segundo em que foram tiradas sentimentos que passados muitos anos podem ser alegre ou dolorosamente recordados. Se no instante em que gravamos aquele momento, que tenderá a perdurar no tempo, pudéssemos prever o que ele irá representar no futuro, será que o guardávamos à mesma para mais tarde nos martirizarmos ou rirmos com ele? Ou seria suficiente a nossa própria memória para se ocupar dessa tarefa? Como tudo na vida, uma fotografia vale o que vale. Resta-nos pensar que fomos apanhados numa esquina da nossa história pessoal e ali ficámos, imóveis, expressando o que naquele momento sentíamos. Se hoje sentimos de maneira diferente, a culpa não é da fotografia.

Caminhos

por migalhas, em 10.09.04
A cada momento das nossas vidas estamos perante uma nova bifurcação. A cada dia que passa seguimos n caminhos em detrimento de tantos outros que deixámos para trás. Se decidimos bem, se seguimos pelo correcto ou se deveríamos pelo outro ter optado, é algo que nunca iremos saber. Na verdade, todo e qualquer caminho vai dar a qualquer lado. O único senão é que a estrada da vida não se encontra sinalizada e somos nós que, baseados na nossa intuição, escolhemos este ou aquele, na esperança de que seja o correcto. Cada passo é uma decisão muito difícil de tomar e quem nos dera por vezes possuir um mapa que nos guiasse, que nos orientasse neste trajecto tão longo, sinuoso e complicado que é a vida. “Vamos andando”, é costume ouvir-se dizer. Resta saber se vamos andando bem ou mal. Ou será que é suficiente “ir andando”? Não creio. Acredito sinceramente que os passos que todos os dias damos e os caminhos que, hora a hora, minuto a minuto, escolhemos, nos estão há muito destinados. Embora não o saibamos, julgo haver quem já antes tenha traçado o nosso percurso por esta vida, como quem traça num mapa o caminho que vai seguir numa simples viagem. Acredito nisso. Acredito sinceramente que tudo aquilo que fazemos tem um propósito definido, uma finalidade. E penso mesmo que essa finalidade é tão só a de fazer-nos aprender, e consequentemente, ajudar-nos a crescer. Como homens, como mulheres, como pessoas. Em último caso, o problema não estará tanto no caminho a tomar, mas sim em deixar que a escolha do mesmo seja feita em plena consciência. Que seja uma decisão ponderada, mas, mais do que isso, que obedeça à nossa mais profunda intuição. Nessa altura, penso eu, estaremos a seguir a única via possível, a via da vida plena e da felicidade que lhe está subjacente. Para terminar, fiquem com algo que um dia escrevi e que penso que resume bem este meu raciocínio:

“Eu vivi e sem medo a morte abraço
porque sei ao que vim e no fim sei o que faço”.

Todos temos um lado negro

por migalhas, em 09.09.04
Todos temos um lado negro. Um lado que pode estar oculto, escondido no fundo do próprio ser, ou bem patente e responsável por uma atitude condizente. Não é difícil descortinar uns casos e outros, até porque as atitudes e formas de estar fazem questão de, obviamente, os demonstrar. Para esses casos óbvios, que não permitem sequer a uma segunda interpretação, está tudo explicado. São evidentes e fazem desse seu lado negro a sua forma de vida. Por isso, questiono-me apenas em relação a todos os outros, que também o possuem mas escondem-no muito bem escondido. Como lidam eles com esse seu lado reprimido? Mantêm-no constantemente assim ou em certas e determinadas situações têm a necessidade de o libertar? Nem que seja por breves momentos, nem que seja num refúgio só nosso, na solidão dos nossos pensamentos, penso que esse lado nunca se esconde por completo. Ele está em permanente alerta e sempre à espreita de uma oportunidade para se fazer notado. Se assim não fosse, não havia tanta necessidade entre as pessoas de criarem conflitos, mal-entendidos, discussões, que por vezes servem propósitos de que nem elas se apercebem, mas que o seu lado escuro latente bem entende. O de gerar a confusão e o mau-estar, ambiente em que se mexe como peixe na água e que sempre que pode não deixa de proporcionar. Muitas e muitas vezes somos enganados e traídos por esse lado que se sobrepõe à nossa vontade, à nossa forma de estar e de ser e nos presenteia com a sua aura negra. Depois, bem, depois há os que se apercebem a tempo e têm a força e a vontade suficientes para o contrariar e estabelecer o seu estado inicial e natural e há os que se deixam levar na onda e aí acabam por se perder, senão para sempre, pelo menos por uns tempos bem dolorosos. Porque existe uma paga para tudo o que fazemos. Aliás, é comum dizer-se que “cá se fazem, cá se pagam”. Não quer dizer que seja nesta vida ou na próxima, mas que havemos de pagar pelos nossos erros, disso ninguém se livra. E se tivermos em conta que tudo aquilo que de mal fazemos ou desejamos aos outros havemos de receber em troca, então mais vale ter a força e a presença de espírito suficientes para levarmos uma vida que não nos encha de dívidas a pagar nas próximas, dívidas essas que depois ainda vêm “engordadas” com juros de mora. Eu ando a tentar e devo dizer que não é fácil. Mas também nunca ninguém nos disse que a vida era fácil, certo? Ainda assim, deixo um conselho que funciona comigo: sempre que esse vosso “dark side” vos provocar, peguem numa caneta e numa folha de papel e escrevam tudo o que vos sair, tudo o que sentem nesse momento. Depois do desabafo vão sentir-se muito melhor, mais aliviados. E com a vantagem de não terem gerado mau karma à vossa volta. Mal comparado, é como diz um outro ditado “depois da tempestade, vem a bonança”. Experimentem. Comigo tem resultado.

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