Esperança de vida
por migalhas, em 14.07.04
Notícia recente dá conta de que a esperança de vida no continente africano é, presentemente, de 33 anos! Fiquei chocado, como qualquer pessoa normal ficaria, mas mais ainda porque, no meu caso pessoal, a esta hora já cá não estaria. Isto se fosse um africano nado e criado em África, esse continente em tempos rico e próspero. Mas se esta é uma notícia triste e preocupante vinda de uma terra e de um povo votados ao abandono pelas grandes potências, já a que se segue não pode escudar-se na mesma falta de meios e de condições. Trata-se do resultado de um estudo recente publicado pela revista Teste Saúde e que alerta para o facto de uma grande percentagem de portugueses desconhecer ainda as medidas de prevenção contra a Sida e respectivas formas de transmissão da doença. Se a estes dados adicionarmos o facto de, em Portugal, o número de infecções por VIH em heterossexuais ter ultrapassado o dos restantes grupos de risco, inclusive o dos toxicodependentes, ficamos perante uma preocupante realidade: a de que os portugueses não se protegem contra a maior causa de morte de adultos em todo o mundo. Assim sendo, será de pensar que a curto médio prazo também o nosso pequeno país poderá ombrear com todo aquele enorme continente no que à esperança de vida diz respeito? Não é que eu queira ser pessimista, nada disso. Mas pelo andar da carruagem, as coisas podem, senão travadas a tempo, tender assustadoramente para este cenário negro. E se em África a culpa pode ser atribuída à gritante falta de meios e às condições quase sub-humanas que ali se vivem, já por cá a culpa é exclusivo de uma imensa minoria, cuja despreocupação é, no mínimo, de um egoísmo atroz. Pois à conta de uma queca dada num qualquer motel à beira da estrada e que se traduz nuns minutinhos de prazer extra, estão a contribuir seriamente para o galopante avanço de uma doença que, sem dó nem piedade, os irá devastar a eles mas, mais grave ainda, fará o mesmo a todos os outros. Inclusive aqueles que se preocupam e que, mesmo isentos de culpa, preparam-se para sofrer da mesma sina do povo africano.