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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Em plenitude

por migalhas, em 23.07.04
Para onde vais apressado
Sabendo que nada te espera?
Para onde corres desalmado
Sabendo que jamais conseguirás fugir?

Quem te deu vida, deu-te a oportunidade
Uma chance de fazer algo, de deixar marcas
E a isso não te podes escapar
Por muito que avances sem nunca para trás olhar

É para a frente que tudo se conjuga
Aquilo que fazes agora
que sonhas, desejas
Depressa se te apresenta passado
Quer tenhas ou não gostado

Vai. Mas vai consciente.
Consciente de que aquilo que fazes te preenche
Te permite um passado que presente algum apague
E futuro nenhum se negue contar

Só assim poderás continuar correndo
Pois que a vida é breve e não pára por ninguém
E para dela tirarmos o suco divino
Há que deitar-lhe a mão
sem receio do que não entendemos.
A vida se encarregará de nos dar respostas.
A nós compete-nos apenas vivê-la.
Em plenitude.

Na tua mão

por migalhas, em 22.07.04
Que buscas tu entre os destroços da alma?
Alivia-te saber que o que procuras morreu?
Que não existem mais boas intenções?
Que o mundo descansa moribundo sob os escombros da ignorância?
De que serve toda essa tua raiva incontida, toda essa revolta
Se já nada podes fazer para mudar
Perdeste o controlo da situação
E de repente tudo balança à tua volta.
Valores?
Jazem junto da esperança, que em tempos floresceu viçosa
Mas que hoje repousa sob uma lápide saudosa
No jardim de todos os tormentos que a morte representa.
Não lutes mais. Não sem antes parares para sonhar
Para idealizar tudo de origem
O Génesis revisitado.
Mas não feches os olhos, não desta vez.
Não ignores tu mesmo o que te levou ao desespero
O novo mundo conta com a tua sensibilidade
Com as memórias que guardas do holocausto
Do poder que o mal um dia teve e a infelicidade que acabou por gerar.
A erva daninha também cresce e não sendo arrancada pela raiz, propaga-se.
Na tua mão seguras o destino da humanidade.
Dá-lhe forma, em forma de bondade.

De que fala a geração de hoje?

por migalhas, em 21.07.04
Nunca pensei que uma diferença de quinze anos pudesse traduzir-se num quase impeditivo comunicacional. Passo a explicar. Actualmente com 38 anos de idade, deparei-me recentemente com algo de que já tinha ouvido falar, mas a que nunca dei grande importância: o gap de gerações. Também o senti na minha época de adolescente e talvez por o supor similar, nunca lhe tenha atribuído a importância merecida. Mal eu sabia o quão errado estava. Afinal, nos dias de hoje, a tal diferença de uns quantos anitos pesa. Em várias áreas, a vários níveis e de uma maneira que não julgava possível. A simples conversa, os códigos usados ou a abismal diferença de termos agora empregues por uma faixa que se situa entre os dez e os vinte e poucos anos, quase que invalida uma possível troca de palavras perceptível com um adulto na casa dos trinta e tais. O contacto que me proporcionou esta revelação tive-o com um grupo de rapazes e raparigas dentro desta faixa etária e que vivem de acordo com os princípios de uma comunidade à parte, a que se torna difícil de aceder. Uma espécie de gangs do século XXI, mas cujos ideais são tão só os de demarcarem a sua própria personalidade, meramente com recurso à palavra. Uma forma de proceder que se tornou comum, se não mesmo natural, e que faz uso corrente e abusivo da linguagem mms, de códigos de fashion e de cor adaptados às novas tendências e de uma atitude que se quer seguida à risca, sob pena de exclusão do grupo. De um momento para o outro, o discurso que parecia sair fluído e completamente perceptível das minhas cordas vocais, deparou com um muro de incompreensão e perplexidade que se ergueu do outro lado da barricada, na pessoa de uns quantos adolescentes alguns anos mais novos do que eu. Termos e expressões antes usadas até à exaustão, acontecimentos que marcaram a minha geração, conhecimentos básicos - digo eu - sobre os mais variados temas que eu julgava de grande importância, tudo parece ter caído em total desuso e, mais, num ridículo que jamais imaginei possível. E sou eu a falar, que tenho apenas 38 anos. Que hão-de pensar os de mais idade, aqueles que são o dignos representantes das gerações que me antecederam? Ouvirão eles um dialecto a necessitar urgentemente de descodificação ou terão, pura e simplesmente, desligado? Hoje, passada esta quase traumática experiência, devo admitir que tenho uma outra visão da realidade. Do mundo em que se movem os futuros donos deste planeta que por tanta coisa já passou, mas por muita mais irá ainda passar. Assim esperamos. Como espero que, sejam quais forem essas revoluções e as suas reais dimensões, as mesmas surjam no sentido de dar um novo rumo à desordem que, pouco a pouco, se tem vindo a apoderar da nossa sociedade. Que mudem os códigos ou que se reformule a linguagem, mas que tal implique igualmente uma mudança real a curto prazo. Que o significado último das palavras daqueles que agora se preparam para tomar nas suas mãos o leme deste mundo cansado, seja de esperança. Pois parece-me claro que este é um tópico que não necessita de grandes explicações. Fala por si e pela urgência de que, cada vez mais, se reveste. Independentemente de códigos ou de idades.

A coisa vai aquecer!

por migalhas, em 16.07.04
Estudo recente dá conta de que o grande aumento na utilização do ar condicionado terá impactos negativos na área da energia a muito breve prazo. Como resultado, o pico do consumo eléctrico, que hoje ocorre no Inverno, pode deslocar-se para o Verão, período em que há menos água para o funcionamento das hidroeléctricas e se recorre mais às poluentes centrais térmicas. No cenário mais favorável, a temperatura aumentará 3,5º C até 2100. No mais desfavorável, o aumento será de 5,8º C. Nas simulações a uma escala maior, ou todas as estações do ano aquecem igualmente ou é sobretudo o Verão e o Outono que ficam mais quentes. A uma escala menor, o resultado é diferente: o Inverno aquece mais, seguido da Primavera, Outono e Verão. A tendência de longo prazo é a de que haja menos chuvas, mas a intensidade deste efeito é bastante incerta. A redução média anual pode ir desde 1,2% até 41,7%, reflectindo-se numa maior escassez de água, ondas de calor mais frequentes, maior erosão costeira e um aumento do risco de doenças transmitidas por insectos. Dadas as incertezas, o estudo não conclui sobre a magnitude destes impactos, mas sugere medidas preventivas desde já. Perante este cenário nada animador, restaria apenas uma solução. Desligar já os ares condicionados e aguentar o belo do calor que se faz sentir e pelo qual ansiamos desesperadamente durante grande parte do ano. Mas estará o pessoal p'raí virado? O mesmo pessoal que ainda deita papéis para a rua, que cospe para o chão, que infesta de lixo os pinhais depois dos piqueniques ou que fuma desalmadamente num restaurante apinhado de pessoas em plena refeição? Não me parece. Para esses, enquanto o problema não lhes tocar de perto, nem uma palha irão mexer. E os produtores dos ditos aparelhos de ar condicionado? Irão essas grandes marcas tomar medidas para combater este flagelo que se adivinha? Mesmo sabendo que lhes pode custar uma valente fatia do negócio, estou convencido de que não mais iremos assistir a coisas ridículas como a que recentemente se passou no Euro e em que uma dessas marcas de nomeada se anunciava como "O Ar Condicionado Oficial do Euro 2004". Para bem do ambiente.



Há vida depois do Euro?

por migalhas, em 15.07.04
Agora que acabou o Euro do nosso (des)contentamento, são muitas as pessoas que vêem a sua vida preenchida por um enorme vazio. Falo por mim que, desde então, não consigo dar um rumo à minha vida. Deixei de saber o que fazer com os animados fins de tarde princípios de noite, com as valentes bebedeiras que se seguiam a cada novo triunfo da nossa selecção ou mesmo com as inúmeras bandeiras que adquiri, ou com as muitas camisolas com as cores nacionais que, orgulhosamente, envergava em cada novo jogo. Dou comigo a buzinar como louco na estrada a qualquer hora da noite ou do dia e a berrar a plenos pulmões por "Portugal, Portugal". Os meus amigos já tentaram fazer-me entender que a vida continua e que devo voltar ao emprego pois, segundo eles, corro o risco de o perder. Coisa que eu não acredito, pois o senhor Matias, o patrão, também torcia por Portugal com o mesmo entusiasmo com que eu o fazia. Ele vai compreender, tenho a certeza. Ainda assim, o que me vai valendo nestes dias mais tristes é o vídeogravador. Que grande invenção! Permitiu-me gravar todos os jogos da competição e agora não há dia em que, pontualmente às 19h45m, não me sente em frente ao televisor para rever aqueles grandes momentos. A casa é que está a precisar de uma arrumadela, pois já nem os telecomandos consigo encontrar no meio de tantas garrafas de cerveja e cascas de tremoços e de pevides. E a culpa é da Manela, a minha patroa. Que não aguentou a nossa derrota na final e fugiu de casa com um adepto do Burkina Faso. Mas ela há-de voltar. Assim que descobrir que esses gajos nunca participaram num campeonato da Europa de futebol, vai-me suplicar para que a receba de volta. Mas até lá, tenho outros planos. Entre um jogo gravado e outro, vou até à praia de bandeira de Portugal debaixo do braço e estendo-me à torreira do sol. Sim, porque se toda a gente usasse agora como toalhas de praia as bandeiras que compraram aquando do Euro, talvez o país se pintasse de novo com as nossas cores. Até porque vêm aí as Olimpíadas e a selecção de todos nós vai voltar a precisar do nosso apoio incondicional. É que, desta vez, somos nós que vamos à Grécia ganhar os Jogos Olímpicos. Força Portugal! Eu estou contigo.

A Jamaica e o Euro

por migalhas, em 15.07.04
De volta a um tema que muitas saudades nos deixou, aproveito para falar de um pormenor que ainda agora me deixa intrigado. Com certeza está ainda presente na memória de todos quantos acompanharam de perto o Euro de futebol, toda a loucura que se apoderou da generalidade das lojas do nosso burgo. Uma loucura que se traduziu numa enchente de adereços de apoio às mais variadas selecções presentes na competição. De t-shirts a bonés, passando por cachecóis, fitas para o cabelo, porta-chaves, canecas e o diabo a sete, de tudo um pouco foi "impingido" a quem não dispensava algo que o pudesse identificar com as cores do seu país. É a força do merchandising, que, invariavelmente, rodeia os eventos de grande mediatismo, como era o caso deste. No entanto, houve uma peça em particular que praticamente, e ao contrário de todas as restantes, não teve qualquer tipo de saída. Que é como quem diz, permaneceram intocáveis nos escaparates de todas as lojas, sem que ninguém lhes pegasse. Falo da t-shirt de apoio à selecção da Jamaica. Uma atraente peça em tons de verde e amarelo, em que inúmeras lojas, inclusive de grandes cadeias mundiais, apostaram em força. Uma aposta que se revelou perdida, diga-se, mas que muito me surpreendeu. Qual a razão de tal flop? É que não dá para perceber. Numa época em que se apela à criatividade e à originalidade de ideias e de processos, por que razão a t-shirt de apoio a uma selecção que nem sequer estava presente na fase final do Euro não foi um sucesso? Essa sim, era uma oportunidade de ouro para dar aso à originalidade. Mas não. Ninguém lhes pegou. Andava tudo com camisolas de Portugal, da Inglaterra, e até da República Checa, vejam só. Ao que isto chegou! E os jamaicanos? Lá por não pertencerem à Europa, já não precisam de apoio? Francamente. É em alturas como estas que se denota a falta de criatividade que por aí abunda. E quem pagou a factura foi a pobre da Jamaica. Que, assim, vê em sérios riscos a sua presença numa próxima fase final de um campeonato... da Europa. Vá-se lá entender isto.

Esperança de vida

por migalhas, em 14.07.04
Notícia recente dá conta de que a esperança de vida no continente africano é, presentemente, de 33 anos! Fiquei chocado, como qualquer pessoa normal ficaria, mas mais ainda porque, no meu caso pessoal, a esta hora já cá não estaria. Isto se fosse um africano nado e criado em África, esse continente em tempos rico e próspero. Mas se esta é uma notícia triste e preocupante vinda de uma terra e de um povo votados ao abandono pelas grandes potências, já a que se segue não pode escudar-se na mesma falta de meios e de condições. Trata-se do resultado de um estudo recente publicado pela revista ”Teste Saúde” e que alerta para o facto de uma grande percentagem de portugueses desconhecer ainda as medidas de prevenção contra a Sida e respectivas formas de transmissão da doença. Se a estes dados adicionarmos o facto de, em Portugal, o número de infecções por VIH em heterossexuais ter ultrapassado o dos restantes grupos de risco, inclusive o dos toxicodependentes, ficamos perante uma preocupante realidade: a de que os portugueses não se protegem contra a maior causa de morte de adultos em todo o mundo. Assim sendo, será de pensar que a curto médio prazo também o nosso pequeno país poderá ombrear com todo aquele enorme continente no que à esperança de vida diz respeito? Não é que eu queira ser pessimista, nada disso. Mas pelo andar da carruagem, as coisas podem, senão travadas a tempo, tender assustadoramente para este cenário negro. E se em África a culpa pode ser atribuída à gritante falta de meios e às condições quase sub-humanas que ali se vivem, já por cá a culpa é exclusivo de uma imensa minoria, cuja despreocupação é, no mínimo, de um egoísmo atroz. Pois à conta de uma queca dada num qualquer motel à beira da estrada e que se traduz nuns minutinhos de prazer extra, estão a contribuir seriamente para o galopante avanço de uma doença que, sem dó nem piedade, os irá devastar a eles mas, mais grave ainda, fará o mesmo a todos os outros. Inclusive aqueles que se preocupam e que, mesmo isentos de culpa, preparam-se para sofrer da mesma sina do povo africano.

Consta por aí

por migalhas, em 13.07.04
Consta por aí que um dia destes o mundo acaba. Esta parece-me uma constatação parva, pois tudo o que existe, obviamente, tem tendência a ter um fim. No entanto, são muitos os arautos da desgraça que por aí empolam este tema até à exaustão, como que desejosos de o ver rapidamente concretizado. Espalham uma espécie de "palavra" às claras e sem peias, baseando as suas teses num suposto dia do julgamento final. Dia esse em que todos seremos chamados a prestar contas perante uma entidade maior, colocando nas suas competentes mãos o nosso destino. Mas não adiantam muito mais do que isso. Se calhar, porque nem eles são detentores de mais dados que lhes permitam vociferar mais baboseiras em barda sobre este assunto, já de si, idiota. Eu por mim digo, venha ele. Se tiver de haver um fim para toda esta macacada, pois ele que se apresente. Cá estaremos para o receber e com ele lidar da forma que menos baixas possa originar para o nosso lado, o da humanidade. Pois que continua a ser na humanidade, e em todas as suas virtudes esquecidas, que assenta toda a esperança de um mundo melhor, antítese daquele onde reinará o caos e a desordem e que terá por desenlace o fim trágico que por aí se fala. Se fôssemos a dar ouvidos a tudo aquilo que consta por aí, mais valia partirmos no próximo voo do Space Shuttle rumo ao desconhecido. Pois dá ideia que o conhecido tem os dias contados, fruto do desencanto que parece ter-se apossado em definitivo da nossa raça.

O meu amigo do outro mundo

por migalhas, em 09.07.04
Conheci recentemente um fulano simpático com quem, desde então, vou trocando alguma correspondência. Até aqui, tudo normal. Mas a verdade é outra, bem mais insólita. É que este meu amigo - que já considero assim embora o tenha conhecido à apenas meia dúzia de dias - não é deste planeta. Ora bem. Por esta é que não esperavam, suponho. Nem eu. Pois o fulano bem que me enganou na altura, ao apresentar-se como presidente da câmara de Lisboa. A princípio ainda desconfiei. Então este gajo vem-me agora com a conversa de que é o Santana Lopes? Nã! Mas a verdade é que a cara era a dele e os modos batiam certo com aquilo que me haviam contado. Uma breve troca de palavras e depressa concluí que se tratava realmente do nosso futuro primeiro. O encontro foi casual e ocorreu devido à minha especialização em captações de água no subsolo. Uma reunião de trabalho no espaço da câmara para tratar de assuntos que nada tinham a ver com o pelouro de sua excelência, alertaram-no, no entanto, para as minhas credênciais. A urgência que mostrou em falar comigo, desde logo me fez concluir que o senhor era alvo de uma necessidade inadiável. Já no seu escritório, igualmente no palácio da câmara, fui convidado a segui-lo, não num dos seus elaborados raciocínios mas, e para meu grande espanto, numa pequena viagem pela nossa galáxia. Apanhado completamente desprevenido, vi-me subitamente a descer em direcção às traseiras da câmara para entrar numa nave estranhíssima que ali se encontrava camuflada debaixo de umas quantas vides. O senhor presidente tomou o comando das operações, algo a que já se começava a habituar, e colocou a nave em espaço aéreo português num abrir e fechar de olhos. A primeira paragem desta alucinante viagem, foi alguns segundos depois no Caramulo. Na serra onde se produz a água mineral natural que é comercializada e bebida por muitos de nós, todos os dias. A pausa foi aproveitada para atestar o depósito do veículo e foi então que fiquei a saber que este apenas funcionava a... água do Caramulo! Curioso. De seguida, e já de depósito cheio, percorremos em pouco mais de meia hora os vários planetas do nosso sistema solar. Durante o percurso, que não consegui deixar de apreciar com olhos de quem nunca tinha ido além do Cabo da Roca, sua excelência elucidou-me de que estava com um grave problema. Desde que visitara o nosso humilde planeta, e no qual ficara já lá íam uns bons anitos, descobrira que o único combustível capaz de fazer voar o seu veículo espacial era a água do Caramulo. Até aqui, tudo bem. Mas o problema era outro. As reservas de água desta fonte natural estavam visivelmente nas últimas e muito desta situação devia-se ao excessivo consumo que ele fazia da mesma, para se poder deslocar para aqui e para ali sempre que lhe apetecesse. E, mais grave ainda, nenhum outro planeta do nosso sistema - como ele me mostrou durante a nossa viagem relâmpago -, possuía um substituto à altura que lhe permitisse continuar a alimentar o depósito desta sua engenhosa máquina espacial. De volta ao seu escritório, já em terra firme, fui então informado da razão de ter sido eu o eleito para o ajudar. Tudo se resumia ao túnel do Marquês e ao segredo que este escondia. Soubera ele, em resultado de umas análises feitas em tempos naquela zona onde agora está embargada a obra do túnel, que algures por ali, no subsolo, existia um enorme lago cujas características da água se assemelhavam em demasia às apresentadas pela sua congénere do Caramulo. Ou seja, talvez ali residisse a tal luz ao fundo do túnel. E com a minha colaboração nessa análise mais aprofundada, quem sabe estivesse encontrada a solução para o seu caso. Explicada a situação, acedi a ajudá-lo mas em troca de umas quantas exigências. Não podia deixar passar esta oportunidade sem dela tirar o melhor partido possível. Assim, comecei por exigir que ele convencesse a Cinha Jardim a deixar de fazer comentários desportivos, a que ele acedeu. De seguida, passei a exigir que, se viesse a ser primeiro-ministro, me conseguisse um qualquer job cá para este boy, a que ele acedeu. E por fim, mas nem por isso menos importante, exigi ainda que se candidatasse de novo ao cargo de presidente do Sporting e, uma vez eleito, contratasse o grande Diego Maradona para a equipa e mandasse chamar de volta o pequeno João Pinto. E expliquei-lhe porquê. O Diego cheirava as linhas do campo e uma vez sem marcações, o João podia atirar-se à vontade para o chão que era sempre pénalti. Havíamos de ser campeões até se extinguir o futebol. A que ele também acedeu. Selámos ali o nosso acordo com um aperto de mão e agora só espero que a água que o túnel do Marquês esteja a meter seja semelhante à do Caramulo. Ou nunca mais o meu Sporting ganha um título que seja.

Porque hoje é sexta-feira

por migalhas, em 09.07.04

A proximidade já quase palpável de dois dias de descanso absoluto, pelo menos ao nível mental, deixam no ar uma agradável sensação de liberdade. Uma sensação que nenhum outro dia da semana tem o dom de proporcionar, seja a quem for. Mesmo àqueles que vivem, única e exclusivamente, para o trabalho e pouca ou nenhuma importância atribuem às pausas. O que não é o meu caso. Eu adoro pausas. Aliás, não consigo conceber a minha pacata vidinha sem pausas. Se calhar é por isso que ela é pacata. Porque não apresenta a grande novidade de finais do século passado, o dito "stress". Esta descoberta recente ou, se quisermos, a designação pomposa encontrada para algo que sempre existiu, veio apenas validar os esgotamentos nervosos ou os excessos provocados pelo trabalho excessivo. As pessoas cada vez mais só ligam ao trabalho, às carreiras que passam a comandar as suas vidas e tendem a esquecer o convívio, os amigos ou mesmo a família. Isolam-se, descuidam o repouso e os tempos livres e um dia é-lhes diagnosticado um esgotamento como consequência de anos de "stress" continuado e cujos sintomas, de tão banais nos dias de hoje, facilmente se tornam imperceptíveis. Na minha opinião, tudo isto é uma treta. Então os nossos avós, bisavós e por aí fora não sofriam de "stress"? A minha bisavó da parte do meu pai, por exemplo, teve oito filhos, oito, e nunca houve qualquer indício de que tivesse tido um acesso que fosse desse tal "stress". Hoje, com duas crianças e que apenas se vêem à noite depois de um estafante dia de trabalho, é logo uma canseira. Não há paciência, mandam-se para os avós e eles que tratem deles. E o meu bisavô? Que vivia do cultivo do campo e tinha a responsabilidade de cuidar das hortas, das sementeiras, das podas e da apanha, não era ele também um alvo ideal para essa maleita? Mas também nunca alguém se referiu a ele como um homem cansado ou que tenha tido alguma vez a necessidade de fazer uma pausa devido a excesso de trabalho. O que eu vos digo, meus amigos, é que este tal de "stress" não é mais do que uma desculpa com o aval dos ditos entendidos para nos tornarmos indiferentes ao que realmente importa. Ou seja, está descoberto o bode expiatório para a nossa indiferença perante os outros e aberta a porta para a ambição desmedida. Quanto a mim, vou continuando nesta minha vidinha pacata. E agora que me lembro, ainda hoje não fui ao pão. E, por acaso, até tenho outras compras para fazer. O melhor é tomar já o meu banhinho matinal, pôr o esfoliante, o creme para o rosto, o gel no cabelo, perfumar-me com um dos oito aromas que possuo e ainda escolher a roupa que melhor se adequa a um dia como o d'hoje. Depois, escolher o calçado próprio para este calor que se faz sentir e o hipermercado onde ir fazer todas estas compras. E ainda tenho de ir ao correio enviar umas cartas e uma encomenda para o estrangeiro, colocar aquele rolo de fotografias a revelar - eu sei que já devia ter uma digital - e passar pela lavandaria para deixar os sacos cama do inverno passado a limpar. Bolas que "stress"! Se não me acalmo ainda acabo como o meu bisavô, a plantar couves no canteiro aqui da rua e a ser alvo das coscuvilhices da vizinhança. Respiro três vezes e saio para a rua. Faço-me à estrada para dar de caras com o engarrafamento de todos os dias e olho com inveja aquelas pessoas que, às oito da manhã em pleno areal de Carcavelos, já se banham ao sol que nem lagartos, devidamente protegidas por um qualquer protector factor 20. Seja o que Deus quiser e pensamento positivo. Mais que não seja porque hoje é sexta-feira.

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