natal terminal
este natal foi tudo pelo cano. tudo. até quem julgava que não tinha pressa. até quem julgava que não estava nessa. tudo. e eu mudo. e surdo e cansado de nada ver, nem ouvir e muito menos sentir. e eu que pensei, que por ser natal, nada se podia mal. como me equivoquei, olhando lá fora quantos prados queimados e terras antes férteis agora terrenos desprezados. a pesar no ar um aroma esgotado, viciado, no rescaldo do tanto que fora devastado. e ao relento incontáveis almas, numa incontável sofreguidão, sem fortuna ou mala pela mão, em longas horas de espera por uma entrada naquela barca que se dizia e queria a salvação. que ilusão. que por ser natal alguém nos iria dar a mão? olhei ao longe o mar e ele sentiu-me o olhar. pediu-me perdão mas que nada podia evitar. e eu como o entendi, neste fim de linha que era nosso, de todos, do ricaço ao sem abrigo. para o ano novo natal e, no seguinte, tal e qual. então já sem roupa no estendal, sorrisos francos ou escarninhos, brincadeiras de criança ou o que fosse que, mesmo parecendo mal, não se entendia como tal. ele seria sempre, nós por este ficaríamos. que tudo continua, indelével e indiferente à nossa passagem. breve como as horas que são cada quadra natalícia, no dorso suave de uma quase imperceptível aragem, reflexo fiel desta nossa viagem.
inédito de migalhas (100NEXUS_2011)