tardiamente
Há uma fuga furiosa
De quem preso na lama se ergue e grita
Há uma margem mínima
Para quem do mar se aproxima e clama
Quem me chama? Quem me chama?
Que este ar que respiro não é meu, é emprestado
Impregnado está na carne como a flor viçosa na terra
Num laço de dor, em tom de proibida cor
Lanço a chama e a palavra agudiza
Canto aos céus, não conto as marés
Tropeço nas letras que salpicam este manto
Entre todo este entulho onde enterro os meus pés
Sou ar, sou terra, sou por este mar adentro
Que o fogo é fátuo e de facto extinguível
Coração ao alto, mole, de manteiga
Sou pele, sou ossos, sou coisa sensível
Sou máquina ao retardador que tardiamente entende
Que o rio desagua no mar
E este meu frágil corpo na terra
Refúgio final, meu último lugar
inédito de migalhas (100NEXUS_2011)