farrapos - tomo 2
para onde segue aquela figura triste
de homem cabisbaixo que daqui parece
deambulando como perdido por entre as brumas da sua memória
arrasta-se distante, sem coordenadas no olhar
ritmo inconstante de quem se esvai a cada instante
fantasmagórica presença, todo ele tumular
move-se, nem decidido, sobre as pedras da calçada
e que lhe dizem elas?
que umas suportam-lhe o peso, outras apenas a brisa que as varre
no corpo de fome
uns velhos trapos, um casaco puído
fronteiras que o separam do que está cá fora
nos bolsos esfarrapados as mãos afundadas
demasiadas farpas no corpo enterradas
quem é ele? é ele alguém?
ou apenas uma sombra que se move à boleia dos tempos
umas vezes de passo estugado, outras de ímpeto travado
que no vento perscruta um aconselhamento
qual bicho assustado
qual ser amargurado que olha adiante e nada vê
senão a cegueira de um nevoeiro medonho
não sabe para onde vai, desconhece de onde veio
e de permeio permite-se ausentar
só ele e uma trouxa de recordações
estrada fora, nem decidido, sobre as pedras da calçada
inédito de migalhas (100NEXUS_2011)