ausência
há pó no ar
folhas que deixaram a mãe árvore e dançam agora à desgarrada
há tanto mar daqui até onde a vista pode alcançar
pensamentos que afloram
raízes que se aprofundam
a pique, num bater ritmado, compassado
um coração aqui, outro ali
corações por todo o lado
na frágil paisagem onde repousa este olhar adocicado
apaixonado pelo que vê, ouve, mas já não sente
na aragem que corre com a gente
nas ruas despidas de fogo
sem réstia de paixão ardente
pelo chão, como lixo ou despojos sem uso
querelas antigas por sarar
desprezadas, leva-as o vento
num tormento que não as há-de abandonar
profundo cinzento
retrato lamacento
do que um dia foi viçoso, frondoso
hoje apenas pálida figura
despida de fogo, de compostura
ilusão que aqui habita
amargura que a vida dita
nudez de fogo
dele ausente, eternamente carente