falso ser, falso estar
não me falem em ter, possuir, ostentar
deslumbrante oásis, eterno Graal
fascinante miragem a que nos apegamos
mal nos julgamos dotados de quantas armas o permitam
não me falem em ter, possuir, ostentar
sabendo que tudo finda na próxima curva
nessa morte que nos é comum a todos, a todos por igual
independentemente do que tivemos, possuímos ou ostentámos
naqueles breves instantes em que fomos qualquer coisa indefinida
mas que sempre se quis mais do que realmente era, sempre quis mais do que realmente podia
num excesso egoísta que não olhava a meios, nem incluía terceiros
esses que sequer saborearam a dádiva de existir somente na paz, somente na harmonia do que é básico, do que é essencial
por isso não me falem em ter, possuir, ostentar
pois quando virarmos na próxima curva
e com ela formos confrontados
por fim confrontados
nada do que tanto alcançámos nos será bóia
nos será salvação ou sequer atenuante de uma vida de vaidade
de uma vida de presunção sem nexo
de desprezo e desrespeito pelo próximo
de fechar os olhos a tanto que poderíamos ter consertado
de virar as costas a tantos que poderíamos ter ajudado
mas que ignorámos, de forma egoísta ignorámos
num apelo cego ao ego, escravizados pela sua soberba
feita que foi a sua vontade
aqui na terra nossa conduta desde tenra idade
por isso não me falem em ter, possuir, ostentar
que de nada nos serve, mesmo em vida
senão para nos iludir que somos, o que apenas aparentamos
que temos, o que apenas nos é emprestado
quando nosso, genuinamente nosso
apenas e só esta morte
comum a todos, a todos por igual