Vil
Sou homem, não sou de pedra
Nem de metal, esse vil que quer tomar-me o lugar
Percorro as ruas e olho a miséria em que nos tornámos
Gente pobre que sobrevive que nem animais
Perdidos pelos cantos, desprezados sem alento
Em cada esquina um, dois, até casais
Olhos cerrados ao mundo que já nada tem para lhes oferendar
Por aí andam ao desbarato, sem rumo nem vontade
São farrapos que nem dignidade
E quem passa por eles assusta-se, porque sabe que também um dia como eles
Sou homem, não sou de pedra
Nem de metal, esse vil que quer tomar-me o lugar
Por isso o que vejo faz-me mal
Faz-me pensar, imaginar que nem certezas, nem garantias
A vida escolhe por nós e se hoje assim, amanhã não assim
É o que vejo por todo o lado
É o desânimo das faces obscurecidas, dos olhos encovados, dos sorrisos sepultados
Figuras que se escondem nas trevas e nelas fazem planos para se quedarem
Sem esperança, comida ou agasalho
Perdidos nas lágrimas do que antes foram
Afogados na realidade que hoje se lhes cravou
Como um pedaço de metal, esse vil que os tomou e na desgraça os depositou