Admiráveis
Quantos raios de sol e todos lá fora
Alegres, compondo danças quentes que perfazem de mão dada entre si
Tantos, a intrometerem-se na vida de quem passa, a fazerem festas, a imporem o seu ritmo quente num afago apertado
E eu cá de dentro a observá-los, atentamente nos seus jogos do gato e do rato
Matreiros, a saberem o que querem, eles sim, eu não
Olho-os com inveja, a de quem não possui a mesma liberdade que os coloca aqui e logo após onde bem entenderem
Movem-se por entre folhagens, por entre calçadas, por entre edifícios e tudo o que nos é mais familiar
Deixam a sua marca, tocam e fogem de seguida, por vezes permanecem por instantes
São raios de vida, são a luz que aqui dentro me falta e por isso admiro-os, fascinado
Quero ser como eles, raios de sol alados, que estão aqui e em todo o lado
Queria sonhar e como eles pelo mundo andar
Sem correntes, sem prisões, sem obrigações que sempre me obrigam a ficar
Eu um raio de sol
Eu quente, eu afável, eu a permitir-me tocar-te e a sentir-te quente, também a ti
E nós raios de sol
A deambular sem guilhotinas, apenas a beijar a face de cada espaço que nos receba, de braços abertos, a saudar a nossa chegada, de cada vez que anunciada, de cada vez que materializada
Daqui de dentro parecem toda a felicidade que é justa, que deveria ser de lei, direito de cada um
Tudo num raio de luz que se perfez, perfaz, e nos alumia rumo a esta paz que só de olhá-los, só de admirá-los
Admiráveis