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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Lá fora empalidece

por migalhas, em 28.10.08

O Outono empalidece.
Tudo à sua volta se redobra em esforços inúteis e é o cinzento quem mais molesta.
Uma pausa, uma sensação de que as ruas passam por nós e não nós por elas.
E as pessoas? Por quem passam as pessoas?
Por outras pessoas, embora não as olhem nos olhos.
E os dias a observarem. A observarem tudo atentamente e cada novo passo de quem passa pelos dias e nem a estes os olha nos olhos.
Dias em que o céu se rasga e nele laivos de um tempo que parece estagnado. Como as águas paradas de um esgoto a céu aberto, rasgado, ferido de morte por um golpe que lhe foi profundo em demasia. E dele a soltarem-se mil almas, a erguerem-se quantas vidas dizimadas e os dias a observarem, atentamente a observarem, sem nada acrescentarem senão o tempo que derramam como lama de uma enchente que tudo submerge à sua passagem.
E lá fora, enquanto anoitece, o Outono empalidece.
E do alto desse Outono, que esmorece, indigente, folhas cansadas da uma vida incerta lançam-se na incerteza de uma outra, quais gárgulas fantásticas, empedernidas figuras que nos beirais se reúnem em bandos de um esplendor assustador para se abeirarem do dia e dele fazerem eterna noite.
E tudo a empalidecer, mesmo aos olhos de quem não olha nada, nem nos olhos. Em redor de um tempo que só espera pelo Inverno seguinte para se intrometer em quantos corações, com a ligeireza do gume afiado que nem se sente, depois dormente e por fim, já perto da morte, tudo escurece, quantos dias, todos os dias, daí para a frente.