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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Nas alturas

por migalhas, em 20.10.05
Subi aos céus a bordo de um enorme balão e à medida que me afastava do solo, que momentos antes me prendera a si com o mesmo desespero com que uma mãe prende nos seus braços um filho que parte para longe de si pela primeira vez, a dimensão das coisas alterava-se a um ritmo que mais parecia não ter fim. Tudo encolhia, mirrava, afastava, ao ponto de certos objectos deixarem de existir, de preencher o espaço possível do meu cada vez mais alargado campo de visão. Desfrutava agora de uma visão panorâmica que se estendia mais e mais a cada segundo. A ela juntava-se agora a calma, o silêncio, o deslumbramento. Estabilizada a subida, mantive-me a uma altura considerável, o que me permitiu reavaliar a verdadeira dimensão das coisas. A sua importância. Face à distância, pude aperceber-me da insignificância, principalmente do homem face ao que se passa ao seu redor. Somos tão mínimos, tão frágeis, tão insignificantes. E, no entanto, no dia-a-dia face ao correr das horas que nos consomem sem darmos conta, somos do mais presunçoso, do mais egoísta, cínico, prepotente, sem escrúpulos que existe. Só estamos bem a dizer mal, a criticar, a incentivar à degradação dos bons valores que cada vez mais se arrastam num aflitivo e desesperante estado agonizante. Visto cá de cima, tudo isso deixa de existir. Sentimos a grandiosidade do todo face à nossa inquestionável pequenez. De que vale gerar mau karma se na volta do correio o vamos receber em duplicado? De que serve destruir, odiar, matar, se o estamos a fazer a nós mesmos? Será que ninguém se apercebe disso? Que o que fazemos ou proporcionamos se assemelha a um boomerang? Que vai, mas volta. Que parece afastar-se de nós, como se nada fosse, mas depressa regressa para nos lembrar que fomos nós que o enviámos. É tudo isso que se torna mais claro visto aqui de cima. Que se torna mais nítido. E quanto mais se sobe, mais óbvio se torna. Visto do espaço então, até o planeta que pisamos se torna mínimo. Mais um entre tantos que compõem o nosso imensurável sistema solar. Se tomássemos consciência daquilo que representamos na vastidão em que nos movemos, talvez a humildade, a humanidade, a compaixão passassem a fazer parte integrante dos nossos dias, na mesma medida em que hoje outros sentimentos se lhes sobrepõem. E não custa nada. Basta querer.

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