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Aqui me deito

por migalhas, em 29.02.08
Os tons ocre cobrem o deitar do dia como uma imensa manta de tantos retalhos que somos cada um, que somos todos nós. Os mesmos tons que lhe aconchegam as paisagens e lhe avançam as boas-noites num sono que se prevê breve, até que nova escala de tons, agora em crescendo dos mais escuros aos vibrantes de tanta luz, ocupem o seu turno. Mas antes, o negro total, o breu que não encontra paralelo nem mesmo na mais escura escala de pretos, densos, que nos cegam e nos fazem recear monstros, os monstros todos que ganham vida nessa palete intensamente carregada. E nesse sono em que me deito, ainda não refeito do nada que me preenche, é aos sentidos que apelo e neles procuro abrigo. Aos sentidos, todos, os cinco e mais um, um sexto que nos é intuição, que nos é instinto e sensação que nos sobrevém de um simples toque, de um simples olhar. E com eles me fundo, eles que me adornam, me vestem, o lado visível e o outro, o sensível, o lado emocional, aquele que me proporciona o ambiente propício ao ser e estar genuíno, onde sou e estou como sei ser e estar, o ser e estar que me é essência animal, que é aquilo que sou, no meu derradeiro refúgio, o meu espaço, a minha intimidade, onde sou mais emoção, na vez da razão que, lá fora, na rua, me comanda cada passo, todos os dias a quase todas as horas, e me preenche de nadas cheios de vazios que são tudo e coisa nenhuma, até se desfazerem na bruma, naquela em que me deito, ainda nem refeito desta vil dor que me lacera o peito.

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