Sujo, como convém
por migalhas, em 12.02.08
Sempre que lavo dinheiro, faço asneira. Não sei se é do detergente ou que coisa eu faço de diferente. Talvez devesse escolher um programa para as cores, pois debota por inteiro. E mesmo com amaciador, sai todo amarfanhado, com um aspecto que nem depois de engomado. Garantiram-me que era uma limpeza, que a coisa resultava na perfeição. Lá limpo fica ele, até cheiroso. Mas não volta a ser o que era, isso é que não. E quando julgava que inchava, esticava, se multiplicava até à exaustão, eis que encolhe, subtrai-se e por vezes desfaz-se, assim, sem razão. E depois para o enxaguar? Estendê-lo, nem pensar, e na máquina de secar, acaba por se evaporar. Ainda tentei com as moedas, que mais pequenas se lavam às dezenas. Furaram-me o tambor e o barulho com que o fizeram foi ensurdecedor. E nem deram para pagar o arranjo, pois que sem solução. Só uma máquina nova, para agravar a situação. Virei-me para o crédito, daqueles que estão na moda, e na hora tinha o guito, com que fui à loja aderir à promoção. Sem juros me endividei e desde então, meses a fio, da prestação escravo fiquei. Uma, várias, as que me venderam para que uma nova máquina não fosse apenas ilusão, mas coisa palpável, ali em minha casa, naquele mesmo canto onde um dia me tentei a lavar dinheiro e só deu mesmo foi confusão. Mas aprendi a lição; que importa se o dinheiro está limpo ou não? Ninguém o cheira e nem por isso vale mais que o outro, o sujo. O que desde então passei a usar e muitas alegrias não se cansa de me dar.