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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Ser agastado

por migalhas, em 30.11.07

Com ele confrontado

Naquela sua postura agastada

Corpo inerte, num banco sentado

De mim se apossou

Um estado desencantado

Aperto angustiante

Como um todo por mim alastrado

 

Bastou com ele o olhar cruzar

E nos seus olhos tementes

Cabisbaixos a implorarem clemência pela pressa dada à sua vida

Ler-lhe a impotência, a revolta contida

Em lágrimas barradas à saída

Pela vergonha de ser homem e chorar pelo seu fado, injustiçado

 

Olhá-lo assim

Farrapo desprezado

Rosto enrugado, pela vida marcado

Como se pela última vez

É imagem poderosa, ainda que não o saiba

É reflexo de quem da vida saiu derrotado

E depôs as armas, todas as que tinha

Mesmo a esperança, que ainda o sustinha

 

Ouvir-lhe a voz trémula

Falar da sua dor

Marcou-me, deixou-me tolo

Asfixiado num turbilhão arrebatador

 

Agora já só deambula

Perdido, sem tino

Figura que se esbate

Quase ausente

A aguardar a hora

O seu último destino

 

Sinto que não voltarei a vê-lo

Mais um dia e já não será ou aqui estará

E é isso, sabê-lo real

Entender quão frágil é ser

Que sufoca, que pesa e marca

Que tudo deixa transparecer