Ser agastado
Com ele confrontado
Naquela sua postura agastada
Corpo inerte, num banco sentado
De mim se apossou
Um estado desencantado
Aperto angustiante
Como um todo por mim alastrado
Bastou com ele o olhar cruzar
E nos seus olhos tementes
Cabisbaixos a implorarem clemência pela pressa dada à sua vida
Ler-lhe a impotência, a revolta contida
Em lágrimas barradas à saída
Pela vergonha de ser homem e chorar pelo seu fado, injustiçado
Olhá-lo assim
Farrapo desprezado
Rosto enrugado, pela vida marcado
Como se pela última vez
É imagem poderosa, ainda que não o saiba
É reflexo de quem da vida saiu derrotado
E depôs as armas, todas as que tinha
Mesmo a esperança, que ainda o sustinha
Ouvir-lhe a voz trémula
Falar da sua dor
Marcou-me, deixou-me tolo
Asfixiado num turbilhão arrebatador
Agora já só deambula
Perdido, sem tino
Figura que se esbate
Quase ausente
A aguardar a hora
O seu último destino
Sinto que não voltarei a vê-lo
Mais um dia e já não será ou aqui estará
E é isso, sabê-lo real
Entender quão frágil é ser
Que sufoca, que pesa e marca
Que tudo deixa transparecer