Nem belos prados
Sou peão incauto neste comum xadrez
Mundo redondo de 4 cantos
Um dia é tudo, tudo de uma só vez
Outros há que morro mudo, intoxicado
Tormentos mil que me sufocam
Outros tantos são desencantos
De um lado os fracos e mais uns quantos
Do outro reis, senhores, selvajaria
Iludidos por igual servem-se de bandeja
Crentes na palavra vã que a ninguém deseja
Chove forte mas é no molhado
Água cansada que já nada lava
Soterra-se de cimento este belo prado
Precipitado que está o nosso fado
Neste papel dúbio de face única
Lê-se nas entrelinhas o que nos está destinado
Velhos guerreiros perdidos na bruma
Um virar de página de coisa nenhuma
Querem ser tudo, sabendo-se nada
Só onde não pisam a flor desabrocha
É rir da morte, coisa sem piada
Não somos de ninguém
Nem da noite eterna
E aquilo que somos
Também não há quem saiba bem
Talvez bravos heróis, até que enganados
Talvez apenas gente, simples, indiferente
Ou vultos ignorados
Contornos em esboço
Todos por igual ao esquecimento votados
Arrastam-se penosos, acorrentados
à pesada sombra de quantos se viram derrotados
O que fica é a imagem, que vai desfalecendo
Sem forças morrendo, a cada novo momento
Esmorecem os cânticos, outrora entoados
Já nada se vê, nem mesmo os belos prados