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100Nexus

TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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livros...

por migalhas, em 27.04.11

«Livros viscosos como pântanos, nos quais uma pessoa se afunda e clama, em vão, que a salvem; livros ásperos, cortantes, perigosos, que nos enchem de cicatrizes; livros acolchoados, de dunlopillo, onde pulamos e saltamos; livros-meteoro que nos transportam para territórios ignotos e nos permitem escutar a música das esferas; livros chatos e resvaladiços, onde escorregamos e partimos a cabeça; livros inexpugnáveis nos quais não conseguimos entrar, quer seja pelo meio, pelo início ou pelo fim; livros tão transparentes que penetramos neles como no ar e, quando voltamos a cara, já não existem; livros-larva que deixam ouvir a sua voz anos depois de os termos lido; livros peludos e com garra que nos contam histórias peludas e com garra; livros orquestrais, sinfónicos, corais, mas que parecem dirigidos pelo tambor principal da banda da aldeia; livros, livros, livros…»

 

[in Prosas Apátridas, de Julio Ramón Ribeyro, trad. de Tiago Szabo, Ahab, 2011]

tempo de mais

por migalhas, em 27.04.11

tens tempo de mais

tens tempo de sobra

ideias em barda

que brotam desse nada e nele se esfumam

tens tanto de coisa alguma

e tempo de mais

 

inédito de migalhas (100NEXUS_2011)

Poemário 1

por migalhas, em 26.04.11

 

"Os primeiros passos numa área tão sensível e complexa como a poesia só podiam ser frágeis.
O olhar, intimista.
O registo, o tom, vezes sem conta negros, como os hábitos de quem vive constantemente questionando-se sobre o porquê de assim ser, de assim estar.
As palavras, soltas, sem freio ou receio do que possam consigo carregar.

Tudo aqui exposto, perante o vosso olhar."

 

Disponível, em versão papel e electrónica, em: http://www.bubok.pt/libros/3564/frageis-passos-negros-habitos--poemario-1

 

o que acabei de ler

por migalhas, em 26.04.11

A Questão Finkler
de Howard Jacobson
Vencedor do Man Booker Prize 2010


 

Sinopse

Divertido, furioso, implacável, este extraordinário romance apresenta um dos mais brilhantes escritores da atualidade no seu melhor.

Julian Treslove está em plena crise de identidade. Ele não tem uma opinião muito concreta sobre a circuncisão, o conflito entre Israel e a Palestina, ou os monumentos ao Holocausto - na verdade, sobre todo e qualquer aspeto da cultura judaica dos nossos dias. Mas o verdadeiro problema com a identidade de Julian é não ser judeu - não que esse pequeno pormenor o impeça de viver obcecado com o judaísmo.

No início do livro Julian, de 49 anos, acaba de sair de um jantar com o seu colega dos tempos de escola Sam Finkler e do antigo professor de ambos, Libor Sevcik. Sam e Libor, ambos judeus, perderam recentemente as suas esposas. O passado de Julian com as mulheres é um pouco diferente: nunca se casou e tem dois filhos adultos que sempre ignorou. No meio dos seus devaneios, enquanto regressa a casa, acaba por ser assaltado por uma mulher que, ao partir, lhe chama Judeu - ou pelo menos foi isso que lhe pareceu ouvir. A partir desse momento, o seu sentido de identidade começará a transformar-se radicalmente


O Castelo dos Pirenéus

por migalhas, em 19.04.11

 

Sinopse: Depois de trinta anos sem se verem, Solrun e Steinn reencontram-se, inesperadamente, no mesmo hotel onde viveram um amor apaixonado. Mas esse mesmo hotel, que em tempos testemunhara a força do seu amor, esconde também o mistério que envolveu o seu fim. Regressados às suas vidas presentes, os dois iniciam uma intensa e secreta troca de emails que volta a incendiar a antiga paixão, fazendo-os questionar os seus casamentos. Um romance fascinante que nos leva a reflectir sobre a natureza da fé, do acaso, do universo e de tudo o que nele existe.

 

texturas

por migalhas, em 15.04.11

o suave toque da bombazina

a sua macieza branda a mandar-nos parar para a sentir na essência do que é e nos proporciona

depois a flanela, no seu toque distinto, a exigir iguais atenções, pois que igualmente acolhedora

e existe espaço para as duas, que aprecio a contento

mesmo sabendo que o cetim me espera e observa do seu canto

mas este nem necessidade tem de se anunciar

sabe-me seu apreciador por natureza, como cada qual

é um toque diferente, diferente de especial

nada se lhe compara, na forma como se impõe sem recurso a chantagem de qualquer espécie, na forma delicada como desliza pela pele e lhe induz o arrepio que a perturba

o cetim sabe, como só ele sabe, que será sempre o eleito, para sempre o preferido

por isso aconchega-se na sua consistência sem par e nela adormece

para acordar mais tarde a servir-me de consolo num sono que perpétua quantos sentidos despertam na sua presença

 

inédito de migalhas (100NEXUS_2011)

o que ando a ler

por migalhas, em 12.04.11

Autor: Lau­rent Gaudé
Título Ori­gi­nal: La Porte des Enfers (2008)
Edi­tora: Porto Edi­tora
Pági­nas: 240
ISBN: 9789720042828
Tra­du­tor: Isa­bel St. Aubyn

 

 

 

 

 

 

Sinopse
A cami­nho da escola, levado pela mão do pai, Pippo é atin­gido por uma bala per­dida no meio de uma refrega das máfias de Nápo­les. Mat­teo e Giu­li­ana, os pais, pas­sam a viver obce­ca­dos pela vin­gança — mas Mat­teo não con­se­gue a cora­gem neces­sá­ria para aba­ter Cul­lac­cio, o res­pon­sá­vel pela morte do seu filho.

Aban­do­nado pela mulher, Mat­teo vagueia pela noite de Nápo­les, onde tra­vará conhe­ci­mento com um con­junto de per­so­na­gens estra­nhos: Grace, um tra­vesti fel­li­ni­ano, Gari­baldo, dono de um café que per­ma­nece aberto toda a noite, o velho padre Maze­rotti e o pro­fes­sore Pro­vo­lone, um espe­ci­a­lista em ques­tões eso­té­ri­cas que lhes garante que é pos­sí­vel des­cer aos Infer­nos e que conhece, na pró­pria Nápo­les, uma das entra­das possíveis.

Acom­pa­nhado do padre, Mat­teo aventura-​se então nas entra­nhas do Reino dos Mor­tos em busca do seu filho perdido…

temente a tudo

por migalhas, em 12.04.11

um rasto de erva seca

antes vívida, espezinhada

na sola louca do soldado errado

numa guerra que não é sua, enganado

os passos incertos, a dúvida eterna

à mesa pratos lavados, vazios de dono ou destino

que a gula morreu solteira, na rua, abandonada

 

pelas avenidas apenas o vento, frio, infinito

nada mexe, nem a memória

vive-se na hora, pela hora

agora e na hora deste corpo dormente

a deus temente, a tudo

 

inédito de migalhas (100NEXUS_2011)

comum a todos

por migalhas, em 08.04.11

no mercado, a varina

na rua, a revolução, erguida em cada esquina

no mar, o pescador, submerso

afogado, como a sociedade, irado

choram por ele, pelo seu triste fado

mas a morte é comum, coisa de todos e cada um

no mar, em terra, no beco, em cada esquina

olhos que perscrutam cada canto

ávidos pelo jovem, pelo velho, pelo novo encanto

musa inspiradora que guia esta minha caneta

me faz escrito neste branco

descrito, exposto, integralmente despido

à varina, ao pescador, ao revolucionário perdido na sua dor

sem pudor ou rancor, apenas sóbrio

como um louco que não sente, mas respira

até que colhido pela morte, na sua triste sorte, na de todos

 

inédito de migalhas (100NEXUS_2011)