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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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O teu dia de Janeiro

por migalhas, em 27.01.09

3 Anos, 2 meses e todos os dias aquela cara atrevida que não me canso de olhar
A vê-la dormir, num sono de paz, em quantos sonhos de mirabolantes aventuras
A vê-la falar do que faz, do que descobre
A vê-la crescer e sem saber como será ou quem
Se um dia para trás olhará e me lançará igual olhar
Para sempre me terá no seu peito como eu a tenho no meu
É sensação que nem milhentas páginas escritas de lés-a-lés poderiam descrever
Só estando e sentido cada instante e todos os instantes uma incógnita, naquela sua cabecinha tão povoada de fadas e heróis de bandas
É o meu maior feito, a maior preocupação e sempre a maior fonte de descanso
Por vezes posso até abusar, mas quem não faz o que pode e o que não podendo ainda assim faz, para proteger a cria que é sua e de que tudo tenta pôr a salvo?
Mais um mês, a acrescentar aos anos, 3
Logo mais uma história ao deitar
E bons sonhos minha princesa
Até nova alvorada, nesses teus doces olhos, que para sempre quero ver

 

Vil

por migalhas, em 23.01.09

Sou homem, não sou de pedra
Nem de metal, esse vil que quer tomar-me o lugar
Percorro as ruas e olho a miséria em que nos tornámos
Gente pobre que sobrevive que nem animais
Perdidos pelos cantos, desprezados sem alento
Em cada esquina um, dois, até casais
Olhos cerrados ao mundo que já nada tem para lhes oferendar
Por aí andam ao desbarato, sem rumo nem vontade
São farrapos que nem dignidade
E quem passa por eles assusta-se, porque sabe que também um dia como eles
 
Sou homem, não sou de pedra
Nem de metal, esse vil que quer tomar-me o lugar
Por isso o que vejo faz-me mal
Faz-me pensar, imaginar que nem certezas, nem garantias
A vida escolhe por nós e se hoje assim, amanhã não assim

É o que vejo por todo o lado
É o desânimo das faces obscurecidas, dos olhos encovados, dos sorrisos sepultados
Figuras que se escondem nas trevas e nelas fazem planos para se quedarem
Sem esperança, comida ou agasalho
Perdidos nas lágrimas do que antes foram
Afogados na realidade que hoje se lhes cravou
Como um pedaço de metal, esse vil que os tomou e na desgraça os depositou

(in)temporal

por migalhas, em 22.01.09

O que me escapa?
O que me foge matreiro por entre estes meus dedos que nada parecem reter?
Por querer? Ou impossibilitados, de mãos atadas face a este imenso segredo que não se dá a entender, um segredo que nos mina e destrói com o passar da hora.
Ouve-se daqui, ouve-se dali, mas no fim quem detém a verdade?
E isso da verdade, o que é?
É verdade dizer que os dias andam à velocidade que lhes vemos?
Que o seu tempo é limitado àquela barreira de 24 horas que lhes atribuímos?
Ou podemos pegar num dia, num dia qualquer

(que eles antes de nascerem são todos iguais, nós é que os preenchemos, como um livro de colorir, as figuras estão lá, os ambientes, e a nós apenas nos cabe a tarefa de os colorir)

e prolongá-lo para lá do seu tempo de um dia, quem sabe, por tantos outros?

Será que alguma vez poderemos acrescentar figuras, mais cenários, a um dia desses, dos que nascem todos iguais, por preencher ou colorir?
E não seria esse dia a nossa ideia de eternidade?
O fim do tempo limitado, fossem as 24 horas de um dia ou os 12 meses de um ano.
Que o tempo é uma prisão e a nossa pena aquele que nos cabe em sorte, até ao segundo da nossa morte.
Será que quebrando essa barreira, derrubando esse muro que se interpõe entre nós e a verdadeira felicidade, seríamos de facto felizes, realizados?
Verdade? Mentira?
Não o sei, pois é tanto o que se me escapa, o que por entre estes meus dedos me foge matreiro, e também este tempo que ainda é fixo e no qual não tenho mão.
Ouve-se daqui, ouve-se dali, que está contado e a todos é dado em partes desiguais, para que seja apenas usado ou, se for vivido, então prolongado para lá do seu tempo fixo, eternizado, segundo a ideia que temos de eternidade e a que parecemos ambicionar nesta prisão que é o tempo fixo, contado, e que ainda assim impossível de domar.
Dele nunca ninguém se evadiu, deste cárcere que nos vê nascer, nos presencia o crescer e nos acompanha o morrer.
Tempo carrasco, tempo que é tudo, tempo breve de ser, tempo anterior a mim, que depois de mim continuará a ser tempo carrasco, o tempo dos que hão-de vir.

 

À luz da escuridão

por migalhas, em 13.01.09

Debaixo daquele rochedo fazia escuro
Mas na toca ao lado o escuro acentuava o seu peso e dimensão
Até que a gruta
Enorme devastação de escuridão, um impensável espaço invisível de tanto breu
Ali permaneci exausto de toda a claridade que ofusca, cega mesmo
Ali a verdade parecia ver-se melhor
Clara como a mais transparente das águas
Ali tudo se entendia, mesmo que na total escuridão

 

(aquela parida apenas da falha de luz natural)


Como tudo se entendia, à evidência de nada ver
Como tantas vezes deveria ser
Quase todas

Sara

por migalhas, em 12.01.09

Eu podia dormir, mas depois perdia-te
Eu podia fechar os olhos, mas depois não mais te via
Eu podia cerrar as pálpebras com a força de mil braços humanos, mas depois deixava de te ler
Toda a distância que eu pudesse, e bastar-me-ia querer e poderia, apenas me serviria para te perder
Para criar as lacunas de a meus olhos te ver crescer
Para ignorar a evolução que te fará gente diferente amanhã
Gente crescida e depois adulta e depois velha e depois um ser com tanta experiência que o mundo te agradecerá
E também eu quero agradecer-te
Pela experiência que também a mim me ofereceste, a cada dia ofereces
Mas pelo imensurável prazer em ver-te crescer
Em saber-te feliz, em saber-te realizada, em saber-te amada
E que esse amor nos atinja de volta e nos faça sorrir
Desejar-te mais e mais a cada novo par de 12 horas que em ti se perfazem e te farão mulher um dia
Eu podia dormir agora, mas isso seria perder-te
E eu quero ver-te
Eu quero sentir-te e amar-te como se tu fosses o meu mundo, o único
Olhar-te nos olhos e compreender-te, hoje, todos os dias
Por isso vou manter-me atento ao que és e ao impossível que poderei para que sejas
Feliz, aquela felicidade de quem é amado como mais ninguém o foi
Serei eu
Bem desperto, a olhar-te cada um e todos os teus graciosos movimentos
Hoje, todos os dias, até ao fim dos meus dias e para lá deles
Eternizada que serás no meu coração

 

És-me a vida

por migalhas, em 09.01.09

Lá fora está frio, mas é lá fora
Lá fora está a guerra, mas é lá fora
Lá fora está a vida, por isso lá fora
É lá fora que me quero, na guerra, na vida
Mesmo que faça frio, imenso, como nunca se sentiu
Onde me quero, afinal?
Aqui não, lá fora, em qualquer outro lado
Aqui sinto mais o frio, mesmo sabendo-o lá fora
Aqui a guerra é maior
Aqui morre-se sem misericórdia
Aqui não me sinto, morre-me tudo, até o coração
Quero o que está ali fora, frio, guerra, a vida
A mesma que aqui me escapa e eu a vê-la partir
Fujo, nem que por uma nesga de cada tempo que passo a olhar lá para fora
A querer-me contigo
A ti, que ninguém ama mais do que eu
Nem mesmo todo o frio e a guerra e a vida
Só eu
A ti que me és a vida

Aquele banco parado

por migalhas, em 08.01.09

Olhei aquele banco, ali parado
Sempre ali, a cada dia
Olhei-o e pareceu-me majestoso na sua inalterável postura de banco quieto, sempre parado
E ele a olhar em seu redor, altivo e quieto
Um simples banco majestoso
Ali parado e a ver mais do que eu, que nunca paro
O tempo por ele passa e deixa as marcas que deixa em mim
Mas ninguém as entende nele, nem em mim
Se escrevo, se sinto esta ânsia e por ela quase morro, ninguém o entende
Não se percebe o porquê
Mas aquele banco sim
Aquele simples banco olha-me como eu não o vejo a ele e ele entende-me o porquê
E se o vejo assim, tão quieto a atentar em seu redor
É porque ele sabe de mim, das minhas razões, teve tempo de as entender
Assim quieto, assim atento a tudo em seu redor
Até em mim

Torpor danado!

por migalhas, em 06.01.09

E aquele torpor que não me larga
Estupor!
Aquela carraça que se cola, como a lapa que se cola
A maré a querer subir e todos eles a fazerem-se unos comigo
A toldarem-me a vista, a obstruírem-me quantos pensamentos que se pretendiam realizados
Nada se atreve, que eles não deixam, bichos danados!
E eu a querer fazer
-lhes frente e nem isso consigo
Anestesiam-me e eu agradado
Vou deitar-me, aqui em qualquer lado
Dormir o sono mais profundo que me mantenha afastado do estado acordado
Afinal reconheço-lhes valor
São amigos, são-me este torpor
Agradeço-lhes e cerro as pálpebras, com eles a meu lado

O 8 pelo 9

por migalhas, em 02.01.09

Consta que o ano mudou.
De facto o 8 deu lugar ao 9.
E depois? Algo mais aconteceu?
Ou espera-se que aconteça?
Não sei, para já não vi novidades. Nenhumas.
E o que era, continua a sê-lo. Inalterável.
Talvez ainda seja cedo.
Ou já tarde demais.