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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Seres tu

por migalhas, em 16.10.08

Observo atento o seu rosto pelos primeiros raios de luz e nunca lhe sei a vontade
Não me perco em tentativas e tomo as rédeas do que lhe é mais querido
E sou ventríloquo louco, a vestir personagens que só o são nas nossas imaginações, e sou silêncio, no silêncio próprio da pantomima que a desperta
E vou com calma, ao de leve, que é assim que funciona e deveria sempre, com todos nós, a cada dia
Aos poucos conquisto-a, e abre-se um sorriso e dois e já faz uso da voz para me contestar
E sei-a na mão, a que lhe dou e com a qual a ajudo a erguer-se do mundo onde sonhou por algumas horas para experimentar a realidade de estar do lado de cá agora
Os rituais da manhã seguem o nosso ritmo viciado, que é sempre apressado
Mas não o dela, que o seu mundo move-se a par duma naturalidade que para ela faz todo o sentido
E também a mim, só que não a posso praticar, sob risco, sob tantos riscos que só o são porque os assumimos como tal
E vamos brincando e eu numa constante a tentar contrapor-lhe o contra-relógio em que está, em que estamos, envolvidos, mas que a ela pouco lhe diz
E saímos à rua e saudamos o dia e chegamos ao ponto de separação, até mais logo, muito mais logo
Logo demais, pois sei que vou perder tanto de ti, quem sabe quase tudo, a grande parte, eu sei
Mas que posso eu fazer? Queria eu, e tanto, poder ver-te, sentir-te, ajudar-te e acompanhar-te a cada passo, a cada dúvida e brincadeira que perfazes, no teu ritmo, que um dia, e infelizmente para ti e para o mundo, irás perder
No dia em que te tornares num de nós, naquilo a que nós adultos chamamos de adulto
Até logo boneca, aproveita este teu dia e brinca e sê criança ao segundo, ao ritmo que é ser criança, que o papá tem de ir fingir que vive, para te permitir uma vida de que nunca te arrependas.