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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Dias de Outono

por migalhas, em 27.09.07

Trazem com eles o peso de acontecimentos recentes, ainda quentes.

Memórias com dias de vida, sonhos que ganharam vida, a própria vida que se ganhou nos dias recentes.

Urgentes, pois que o ciclo assim o exige.

Surgem perversos na sua calma.

Destoam dos que deixam para trás, felizes, onde tudo foi possível.

Vestem novos tons e neles encontro um desdém involuntário, um sarcasmo que não é maldoso, mas que é presente.

O Verão morreu.

Segue-se o Outono.

É assim, sempre foi e será.

A sequência repete-se, a tristeza que nos amolece.

Olhamos e recordamos já saudosos, ausentes em parte certa, a que repousa logo ali, num passado à distância de um sorriso que se desfaz, naturalmente. Os dias mirram, os dias escurecem, a alma canta, desafinada.

Olha-se o céu num desespero angustiante, acompanha-se o percurso sinuoso daquela gaivota, na sua pose esvoaçante, sem compromissos, senão com o ar que cruza, errante. 

Tudo se arrasta, se alonga, o tempo encurtado parece doente.

Ou será a nossa mente?

Que agora sente o deserto que tem pela frente?

São dias de Outono, ao mês nono.

Oferendas de um tempo renascido, um punhado de horas nunca repetido.

Neles se esconde vida, neles encontro a minha e quando os recordar, após a sua partida, será com a mesma saudade de todos os outros.

De cada um que ficou, que foi presente e por instantes em si me reteve.

Contemplo estes, dias de Outono, da mesma forma que contemplo todos, dias após os dias.

Porque a vida são todos e cada um.

A soma de quantos merecemos.

Segredos roubados

por migalhas, em 26.09.07

O crepitar da fogueira, fagulhas que se soltam, o braseiro que abraça cada tronco recém-chegado. Um clarão na noite, que as altas labaredas ajudam a cimentar. Noite estrelada, fogachos de memórias soltas, avulso. Cortam a noite, mais afiadas que o agreste frio que se sente. A vasta extensão perdeu-se de vista. A escuridão toma conta do recado, faz refém a nossa mente. De tudo se serve para nos subtrair uma confissão. De dia é diferente. O que os olhos vêem não mente. Sob a claridade prepotente tudo se distingue, real em forma e conteúdo. Na calada da noite tudo se mostra indefinido. Tudo se ausenta. Nada de cores, de pormenores, apenas silhuetas, coisas maiores. Na noite preta é fácil focar o pensamento, chamá-lo à razão, encontrar-lhe sustento. Solta-se na essência do disforme enorme e mostra-se difícil de domar. É apaziguadora, a noite, mas esconde outra face, sedutora. A que, dissimuladamente, atrai ao seu abrigo, ao seu esconderijo, armando uma cilada sem volta a dar. Capturada a presa, aplica-lhe o golpe misericordioso, sem apelo nem agravo. Sem ponta de piedade ou compaixão alguma. Um após outro, todos vão ao seu encontro, como servos desprovidos de vontade, marionetas manipuladas por mãos mestras, sabedoras. A arte de nos obrigar a expor o que apenas a nós deveria dizer respeito. Deixamo-nos ir, arrastados pelo seu doce veneno, por promessas nunca cumpridas. Na noite escura despimo-nos de nós mesmos, despimo-nos da couraça que nos sustenta, deitamos por terra as máscaras e somos, por fim, transparentes. Claros como a mais pura e límpida das águas que teima em beijar o solo desértico que nos acolhe hoje, nesta noite reveladora, de segredos forçados, involuntariamente contados. Avassaladora, a um limite insustentável. Depois desta não haverá outra igual. Nem nenhuma outra, qualquer que seja. Nenhuma outra fogueira verei crepitar, nenhuma outra ajudarei a alimentar. Porei fim a tudo e aqui neste deserto distante a meu lado enterrarei os segredos que comigo transportei e que nesta noite, infantilmente, revelei. Caí na cilada. Da noite malvada. Da noite apenas ferida, apenas violada, pelo clarão que ajudei a nascer, vi crescer e horas mais tarde me viu morrer.

Água vai

por migalhas, em 24.09.07

Lá fora a chuva voltava a mostrar aquilo de que era capaz. Intensa, sonora no seu embate com pedras e folhas que recebiam agraciadas cada gota pesada. A parte. As várias partes que, juntas, perfaziam aquele manto cerrado que se abatia sem ponta de misericórdia sobre cada elemento a si exposto. Elementos da natureza em confronto directo, com clara vantagem para o que se precipitava das alturas a mando de um santo a quem chamam Pedro. Os caudais de rios e ribeiras vizinhos avolumavam-se assustadoramente, prestes a banharem para lá das margens a que se deveriam, por norma, limitar. As zonas ribeirinhas, essas eternas vítimas dos primeiros exageros de pluviosidade, davam mostras de nova repetição de histórias antigas. De memórias que sempre se renovavam de cada vez que a água era assim, em excesso avassalador. De cada vez que resolvia mostrar a sua fúria e provar, a quem ainda duvidasse, que era a ela que deviam veneração, pois ela tudo podia e a ninguém devia explicações ou justificação alguma sobre aquilo a que se propunha. Ultimamente parecia estar de facto enfurecida com algo. Zangada, irada, a responder a troco de alguma que lhe haviam feito e à qual, certamente e a ver pela vingança, não achara a mínima piada. Mas o quê? De que se queixava ela? Bramavam já exaustas as populações, incapazes de entender por que eram elas constantemente açoitadas, vergastadas, fustigadas por semelhante castigo, numa pena da qual não conheciam o crime que lhe estivera na origem. O isolamento adivinhava-se. Mais meia hora com esta intensidade e de novo estariam sem possibilidade de contacto terrestre com o resto do mundo. Terras deslizavam em cascatas de lama que tudo levavam na frente, barreiras sempre inúteis eram facilmente derrubadas face à força em crescendo daquela reunião de águas das mais variadas proveniências. As ruas deixavam de o ser, as casas eram invadidas na sua privacidade, o “salve-se quem puder” era agora palavra de ordem entre os que adiavam a partida até perto dos limites possíveis. As equipas de salvamento haveriam de voltar a resgatá-los e a adiar uma vez e outra o que parecia querer ser inevitável um dia. Rés-do-chão algum era poupado à imagem de pertences vários boiando, de móveis, antes pesados, agora facilmente arrastados pela casa rumo a uma mudança de posições involuntária. E os prejuízos. Esses sempre consequência de cada nova intempérie. Incalculáveis, invariavelmente incalculáveis. Tudo se perdia para de novo se vir a recuperar. Um ciclo que se fechava, abrindo portas a outro cujo desfecho não se previa muito diferente do seu antecessor. Era assim a vida de quem por aqui a resolvera fazer. Numa espécie de fardo a que estavam destinados desde o dia em que ali se instalaram. Uma cruz que teriam de carregar sempre e para sempre, penosamente, sempre tementes a ela, à sua ira implacável, à sua faceta mais punitiva.

Demência em latência

por migalhas, em 21.09.07

Demência em latência

Jogos de um além que nos foge

Mas que nos arrebata na figura imperceptível, ainda assim atraente, do misterioso desconhecido

Peças soltas que em cenário algum se encaixam

Puzzles doentios, palavras vãs, banalidades extenuantes

Manta de retalhos, sempre curta, sempre insuficiente

O que expõe é barbárie, embora mirrada, sugada na sua essência

Dissimula e faz de cada feito passado esquecido

Do descontentamento alma irada que não sabe ao que anda

É impuro e não se incomoda

Pois faz do obscuro moda, modus operandi

Ferramenta que nos tortura

Nos tritura o pensamento, nos devasta o intento

Castra a vontade que nos deveria servir de alento

Por que se faz? Se o que se faz, o pouco que se faz, de nada serve

Em nada muda o rumo e nós sabemos

Adivinhamos e transparecemos no feitio perverso que vestimos

No ódio adverso que incentivamos

Na guerra diária que levamos

Para a cova, o derradeiro dos enganos

O beijo

por migalhas, em 20.09.07

Há quem veja uma luz equivalente a mil sóis.

Há quem se sinta inebriado de uma forma que vinho algum consegue.

Há quem do chão se eleve, levite, aos céus ascenda e numa nuvem por momentos habite.

Há quem perca os sentidos e apenas a custo com eles se reencontre.

Há quem queira para sempre viver ausente, naquele tempo e espaço que só um beijo permite. Naquele sabor dormente, naquele saciar de anseios, naquele incendiar de paixão avassaladora que consome a eito, rebenta o peito, incendeia toda a planície do nosso ser e nos deixa vergados à sua vontade indomável.

O beijo é escravidão, é lutar contra a razão, é deixarmos de ser quem somos e vestir a pele de um ser demente.

Ele aniquila o bom senso, mata qualquer moral, liberta-nos desta máscara que suportamos e não queremos.

Ele é antídoto para uma vida por viver, sem graça nem quaisquer atributos apenas do coração.

O beijo é o consumar do desejo, é fúria cega que nos tolda a visão e o todo por arrasto.

Eleva-nos a patamares que nem a mais profunda das meditações.

Rouba-nos a integridade, combate-nos a seriedade, ele é o culminar da mais possante vontade.

É apenas um beijo, mas mata-nos e traz-nos de regresso à vida na ânsia de outro e mais outro, os que puderem ser, que sejam sal, açúcar, água e vento, tudo ao mesmo tempo.

Basta um para nos transportar, apenas um para nos fazer voar e para sempre aos sonhos nos entregar.

Dois pesos, duas medidas

por migalhas, em 19.09.07

Não está em causa o desfecho de cada um dos casos (se bem que por ora ainda incertos) e muito menos as vítimas envolvidas nos mesmos (crianças pequenas que não tiveram como se defender). O que salta à vista, e de certo modo incomoda, é o peso e respectivas medidas atribuídas a cada um dos casos, em tudo análogos. O caso da pequena Joana, menina portuguesa filha de família de fracos recursos, e o da pequena Maddie, menina inglesa filha de médicos ingleses em férias no Algarve. Não me lembro de tanta celeuma à volta do primeiro caso (embora tenha tido os seus 15 minutos de fama), de tanta notoriedade, cobertura mediática interna e externa, de tantas teorias, comentários, falatório, como no segundo. Onde, desde a primeira hora, foi clara a disposição de prestar vassalagem ao império britânico, que, mesmo enfraquecido e sem a autoridade de outrora, parece ainda impor algum respeito fora de portas. Muita coisa foi posta em causa durante este processo. Nomeadamente a capacidade das nossas autoridades para resolverem esta situação. Mas se se vier a provar que as suas conclusões conduzirão a um desfecho indiscutível quanto aos culpados, esteja esta culpa de algum modo associada aos pais da criança ou não, sempre quero ver as reacções daqueles que, quer cá, quer lá fora, questionaram os métodos e a qualidade do trabalho levado a cabo pela nossa polícia. Por que agora, mais do que por qualquer outra razão, em causa está o bom nome desta instituição nacional aos olhos do mundo. Razão por que, com toda a certeza, irão até às últimas consequências para resolverem cabalmente este caso. Convém lembrar que, ao fazê-lo, estarão igualmente a revelar um outro facto de extrema importância de que, muito possivelmente, nem se darão conta, e que tem objectivamente a ver com o empenho. Empenho esse que se fosse sempre sujeito à pressão do mediatismo exacerbado de que este caso é um claro exemplo, os resultados poderiam ser sempre de uma excelência que, afinal, até existe, mas, infelizmente, apenas e só para inglês ver.

Em nome do Amor

por migalhas, em 18.09.07

Ele é tudo.

O todo, a soma de quantas partes se imaginam possíveis.

Insinua-se assim, eloquente, grandioso, de dimensões avassaladoras, imponente aos olhos de tudo o que o rodeia.

Diz-se cavalo de Tróia, colosso de Rhodes, estrutura brutal na sua essência, na sua aparência por demais esmagadora.

Vê-se daqui, dali, de todo o lado ele é visível.

E bem, ao pormenor, detalhes definidos como se estivesse aqui, a meio metro de quem olha estupefacto tamanha imponência.

Verte poder, suga-nos qualquer veleidade em o ignorar, cientes de que apenas lhe devemos veneração.

Um deus, mito, lenda, a origem do que existe e de quanto ambiciona a tal.

Dele tudo deriva, dele tudo depende.

À sua passagem, um rasto de feitos por demais enormes para se olharem apenas de soslaio.

Antes respeitados, motivo de orgulho, admiração.

Ele é líder, natural, inquestionável.

Sem qualquer tipo de hesitação ou dúvida nele depositamos a nossa fé, crentes em dias melhores, bafejados pelo radioso brilho de quem é resplandecente, ofuscante só por estar presente. 

Possibilidades mil, na sua mão brincadeiras de criança.

Não joga na poupança, até nisso é enorme, quando se propõe o que faz é infinito. Perpetuado no tempo, o seu imenso querer para sempre será o nosso.

Por ele somos heróis de um tempo sempre presente.

Pois que o amor é constante da vida, guia experiente que nos leva a bom porto, seguro.

Face exposta ao sol, num mar de acalmia que se despede até amanhã no horizonte longínquo do que ambicionamos ser.

Em seu nome, em nome do amor profundo, sentido como sentido é o respirar que nos sustenta.

Valores trocados

por migalhas, em 17.09.07

A tacanhez humana chega a ser ridícula.

Sem disponibilidade para o que deveria ser de importância fulcral e, dessa forma, prioritário nas suas vidas, o comum humano dedica-se a escalpelizar temas que vão surgindo amiúde, como oportunas distracções para as suas mentes interditas a assuntos de facto relevantes.

Ele foi o muito badalado, mas nem por isso elucidativo, caso de pedofilia que envolveu altas individualidades da nossa praça e alunos da Casa Pia, depois o tema que abalou esta época balnear nacional, o desaparecimento da pequena Maddie, que por ser estrangeira congregou a simpatia da generalidade deste nosso pacato, acolhedor e provinciano povo, e, mais recentemente, a já famosa cena de pugilato do nosso, até então, exemplar e heróico seleccionador nacional de futebol. Temas sobre os quais todos tinham opinião formada e, mais do que isso, teorias perfeitamente possíveis e sustentadas. Mas se um homem devoto à paz (prémio Nobel dessa mesma paz) líder espiritual de uma das mais marcantes religiões universais resolve presentear-nos com a sua visita, por que razão de imediato toda a gente de responsabilidade lhe volta costas e escusa-se a recebê-lo condignamente? Por medo de represálias de terceiros? De terceiros esses que invadiram, já em pleno século XX, barbaramente o seu país de origem e com isso obrigaram-no a um exílio forçado? Que receosos da verdade, daquela que sempre sai da sua boca, fazem uso da sua influência global para amedrontar os que ousem contradizê-los e assim se tentarem a agir de acordo com o coração? Neste caso, torna-se difícil conseguir mais do que uns poucos segundos de atenção a quem quer que seja, ou mesmo conseguir arrancar mais do que meia dúzia de palavras soltas e sem nexo de quem se refugia em desculpas do mesmo teor. Ou a prova de que quando se trata de assuntos que dizem respeito à paz, ao bem-estar, à preocupação real com o mundo actual, neste caso pela voz de um dos seus mais importantes e activos defensores, a disponibilidade seja quase nula, tirando algumas, raras, excepções. E ainda há quem se admire com o estado do mundo, pleno de intranquilidade, insegurança, insensatez, instabilidade, intolerância, sem vislumbre de uma paz duradoira. Ora se nem para um dos seus maiores defensores existe vontade em dialogar, coragem de com ele trocar experiências, aprender, como será possível que essa paz algum dia possa vir a ser uma realidade? Fica o desabafo. Mais um.  

Momento sentido

por migalhas, em 14.09.07

Que momento de emoção incontida. Recordatório de tempos idos mas que perduram, como a leve brisa que nos conforta em dias de canícula. Inesquecíveis, como se querem. Como se revivem, nas palavras que se soltam sinceras, do coração. Em cada frase, fio condutor de um todo narrativo que é reflexo fiel do sentimento mais profundo. Aquele que esconder seria heresia. Sinto saudade. Não de nós, pois que somos presente, futuro anunciado, mas do que já fizemos, conquistámos, aquilo por que passámos, de mão sempre dada ou unidos por um íntimo abraço que tudo revela. 

11 Anos

por migalhas, em 14.09.07

11 Anos. Não são 11 dias ou 11 meses. São muitos mais e todos eles preenchidos. A cada minuto, nem que seja apenas em pensamento. Uma figura presente, sempre constante, mas que não cansa, antes se deseja a cada relembrar. Ainda recordo este mesmo dia há 11 anos atrás. Um nervoso que não se assumia, que não se detectava visto de fora, mas que estava lá, bem marcado. Na sua origem o desconhecido, a mudança, o assumir de novas responsabilidades. O passar a ser dois, a cada dia, todos os dias. Mas mais ainda a incerteza, escondida pelo desejo de que fosse o sonhado, o desejado. De dias de felicidade que nos tomasse de assalto e assim nos mantivesse durante o período de toda a nossa restante vida. 11 Anos volvidos e não me posso queixar de um dia que seja. Mesmo sabendo que os houve menos bons, menos dedicados, mais ausentes, ainda assim não me arrependo de quase nada. Talvez apenas de não ter tido mais oportunidades para te dizer que te amo. Hoje como ontem, ou talvez até mais. Se é que o amor pode ser contabilizado, pesado, medido desta maneira. De qualquer forma, importante é saber que posso contar cada vez mais com a compreensão, carinho e amizade de quem mais do que ninguém me conhece por todo e assim me aceita. Para ti, Ana, vai um beijo enorme e um desejo ainda maior de assim continuar a teu lado e, agora a 3, beber avidamente o suco desta vida imensamente feliz que, sei, ainda nos aguarda.  

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