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TUDO É ILUSÃO, DESDE O QUE PENSAMOS QUE PODEMOS AO QUE JULGAMOS QUE TEMOS.

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Aí está ele!

por migalhas, em 26.10.05
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Imagine um livro que não é bem aquilo a que está habituado num livro normal. O que desde logo nos coloca perante um livro anormal. Mas anormal pode não ser mau. Muito das vezes até é bom. Se visto no sentido em que é diferente, fora do comum, original, imprevisto e outros tais que adjectivem o inusitado de que se reveste esta publicação. Depois, imagine que vai a uma livraria à procura do livro. Julgando que se trata de um livro como todos os outros que por lá se acotovelam nas prateleiras para chegarem mais e mais perto deste seu parente recente. Recente, diferente, o parente rico com que há muito todos sonhavam expectantes, como se de um novo salvador se tratasse. Todos os olhares recaem sobre ele. Mal se mostra, passa a ser o centro das atenções. Em questão de segundos é alvo da cobiça generalizada e até mesmo de alguma inveja. Uma população impossível de controlar move-lhe agora uma perseguição desenfreada e sem misericórdia. Todos acorrem em massa e o sucesso recente de outras obras passa a ser uma brincadeira de crianças quando comparado. Se houvesse comparação. É que, neste caso, nem isso. Nunca se viu nada assim. Todas as livrarias o encomendam, todos os hipermercados, megastores, até no Mercado do Bulhão há quem exija as petingas acabadinhas de comprar embrulhadas nas suas páginas amareladas. Intitulado “Sem corantes nem conservantes”, já só se vê a trepar pela tabela de vendas, rumo ao topo. Agora já nem o céu tem por limite. Mostra-se imparável. As edições sucedem-se a um ritmo alucinante, o sucesso é ainda mais doce por se tratar de um sonho de que ninguém ousa acordar. Nem mesmo o autor. Um publicitário que finalmente se propôs a romancear o mundo em que diariamente se move há 14 anos. Resta-lhe saber se desta vez também soube vender bem o seu peixe.

Nas alturas

por migalhas, em 20.10.05
Subi aos céus a bordo de um enorme balão e à medida que me afastava do solo, que momentos antes me prendera a si com o mesmo desespero com que uma mãe prende nos seus braços um filho que parte para longe de si pela primeira vez, a dimensão das coisas alterava-se a um ritmo que mais parecia não ter fim. Tudo encolhia, mirrava, afastava, ao ponto de certos objectos deixarem de existir, de preencher o espaço possível do meu cada vez mais alargado campo de visão. Desfrutava agora de uma visão panorâmica que se estendia mais e mais a cada segundo. A ela juntava-se agora a calma, o silêncio, o deslumbramento. Estabilizada a subida, mantive-me a uma altura considerável, o que me permitiu reavaliar a verdadeira dimensão das coisas. A sua importância. Face à distância, pude aperceber-me da insignificância, principalmente do homem face ao que se passa ao seu redor. Somos tão mínimos, tão frágeis, tão insignificantes. E, no entanto, no dia-a-dia face ao correr das horas que nos consomem sem darmos conta, somos do mais presunçoso, do mais egoísta, cínico, prepotente, sem escrúpulos que existe. Só estamos bem a dizer mal, a criticar, a incentivar à degradação dos bons valores que cada vez mais se arrastam num aflitivo e desesperante estado agonizante. Visto cá de cima, tudo isso deixa de existir. Sentimos a grandiosidade do todo face à nossa inquestionável pequenez. De que vale gerar mau karma se na volta do correio o vamos receber em duplicado? De que serve destruir, odiar, matar, se o estamos a fazer a nós mesmos? Será que ninguém se apercebe disso? Que o que fazemos ou proporcionamos se assemelha a um boomerang? Que vai, mas volta. Que parece afastar-se de nós, como se nada fosse, mas depressa regressa para nos lembrar que fomos nós que o enviámos. É tudo isso que se torna mais claro visto aqui de cima. Que se torna mais nítido. E quanto mais se sobe, mais óbvio se torna. Visto do espaço então, até o planeta que pisamos se torna mínimo. Mais um entre tantos que compõem o nosso imensurável sistema solar. Se tomássemos consciência daquilo que representamos na vastidão em que nos movemos, talvez a humildade, a humanidade, a compaixão passassem a fazer parte integrante dos nossos dias, na mesma medida em que hoje outros sentimentos se lhes sobrepõem. E não custa nada. Basta querer.

Ainda e sempre, a escrita

por migalhas, em 19.10.05
Escrever coisas. Passo a vida nisto. Se não é no trabalho, é no lazer. Deve ser do hábito. Do hábito da escrita, quero eu dizer. Sempre a fazer puzzles com letras, a dar corpo a palavras e com elas elaborar o esqueleto de cada texto, por via de frases várias que lhe vão alimentando o sentido. A ideia que dá, visto assim a alguma distância, é que tudo ganha vida através de um simples passe de mágica. Que a escrita, aquela que um dia Teixeira de Pascoaes definiu como a área onde o homem melhor expressa o seu mais profundo íntimo, surge facilmente. Da mesma forma que se processa a respiração ou exprimimos uma opinião sobre determinado assunto. Mas não. Dá muito trabalho, requer muita pesquisa, aprendizagem, muita leitura de outros que têm sempre algo mais para nos ensinar. Depois é dar asas ao que nos vai cá dentro e justificar que a escrita é de facto, segundo Alberto Vaz da Silva, um meio de comunicação ímpar onde o inconsciente se revela tanto como nos sonhos. Tomando-lhe o gosto, dela ficamos servos. Ou mesmo dependentes, num grau difícil de explicar. Porque é ela que passa a permitir o escape diário, o exteriorizar dos mais variados sentimentos, o expurgar das adversidades de cada dia, num estado de introspecção próximo da meditação, que convoca a exclusividade da nossa concentração e dedicação. É algo que passa a circular na corrente sanguínea e por ela alastra a todo o corpo como um vírus incontrolável e devastador. É paixão como só existe a do genuíno amor. É vida em todo o seu esplendor. É entrega à mais bela das causas. É partilha de sentimentos, de sonhos, de ideais. É o que tem de ser e eu gosto assim. Espero que por muito tempo. Desejo que para todo o sempre.

Pensamentos

por migalhas, em 12.10.05
"A literatura, como qualquer arte, é uma confissão de que a vida só não basta."
Fernando Pessoa

"O que é um livro? Uma sucessão de pequenos sinais. Apenas isso. Compete ao leitor extrair por si próprio as formas, as cores e os sentimentos a que esses sinais correspondem."
Anatole France